Recentemente, ao final de uma palestra, recebi uma pergunta que me deixou pensativo. Quais seriam nossos pontos cegos, que não conseguimos ver, mas que poderiam afetar significativamente nossas vidas nos próximos anos? Em outras palavras, o que não esperamos que vá acontecer, mas está longe de ser impossível que aconteça? Começando por eventuais surpresas positivas, e se, de repente, os resultados das próximas eleições revertessem a polarização crescente que rachou o País? Vai que elegemos gente que una os brasileiros ao redor de um projeto comum de Nação, ao invés de dividir-nos e jogar-nos uns contra outros…

Outra eventual surpresa positiva: e se a pandemia de coronavírus deixar de ser uma preocupação para a vida e os negócios dos brasileiros? Vai que, com a vacinação das crianças mais novas, em breve quase todos os brasileiros estarão vacinados e, mesmo com a Ômicron contaminando um número recorde de pessoas, as vacinas se provam muito eficazes para evitar mortes pela Ômicron e por outras futuras variantes da Covid-19. E se, com o coronavírus se tornando muito menos letal, depois de muita gente ter sido vacinada e muita gente já ter tido a doença, criamos condições de lidar com ele como apenas mais uma doença e partir para a uma nova normalidade, diferente de como vivíamos antes da pandemia, mas sem preocupações e paralisações frequentes das atividades econômicas?

E se o uso crescente de tecnologia melhorar a qualidade de vida
de todos, ao invés de gerar mares de desempregados?

E se a decisão recente dos Emirados Árabes Unidos de reduzir a jornada de trabalho para quatro dias e meio por semana é o início de um movimento global, o qual terá mais robotização, inteligência artificial e outras tecnologias. Vamos ter de trabalhar cada vez menos e teremos cada vez mais tempo livre para desfrutar? E se o uso crescente de tecnologia melhorar a qualidade de vida de todos, ao invés de gerar mares de desempregados? Do lado negativo, começando pela política, e se a polarização se intensifica, o Brasil racha, os resultados da eleição não são reconhecidos por uma parte significativa dos brasileiros, ocorre um golpe de estado ou o País entra em uma guerra civil?

E se a bolha imobiliária chinesa estoura, o setor financeiro mundial tem perdas colossais e ocorre outra crise financeira global, jogando o Brasil e o mundo em uma nova recessão? E se a alta da inflação que vimos em 2021 foi só a ponta do iceberg, marcando uma inversão de um movimento global de desinflação das últimas três décadas? E se o conflito da Rússia com a Ucrânia escala para uma guerra que acaba envolvendo a Europa, os EUA e a China? Por definição, o futuro é incerto. Não sabemos o que não sabemos a seu respeito, mas parece valer a pena fazer um pequeno exercício de “surpresologia” e não ser pego completamente de surpresa pelo que, talvez, não deveria ser tão surpreendente assim. Para você, o que poderia acontecer de bom ou de ruim que pouca gente imagina?