O presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) de Atlanta, Raphael Bostic, defendeu postura cautelosa na política monetária, no quadro atual, ao considerar que ela já está em nível “apropriadamente restritivo”. Bostic, porém, negou que apoie corte de juros em breve, mas alertou para o risco de um aperto excessivo provocar “dano econômico desnecessário” na economia dos Estados Unidos, em quadro ainda de “incerteza e risco”.

Sem direito a voto nas decisões de política monetária deste ano, Bostic falou nesta quinta-feira, 31, em conferência do BC da África do Sul, na Cidade do Cabo. Segundo ele, o conselho do Fed deve ser “cauteloso” no quadro atual e deixar a política monetária já “restritiva” influenciar a economia, para não apertar a política em demasia.

Bostic se disse mais confiante sobre a trajetória da inflação rumo à meta de 2%. Ele mencionou um recorte da inflação ao consumidor elaborado pelo próprio Fed de Atlanta (“stick inflation index”), que exclui alguns itens para monitorar os componentes mais persistentes nos preços. Esse índice mostrou estabilidade entre junho e julho, apontou. Para o dirigente, as pesquisas do Fed de Atlanta e conversas que ele mantêm com agentes econômicos sinalizam que o momento de baixa na inflação deve prosseguir.

Ao mesmo tempo, Bostic advertiu que a batalha contra a inflação “não está concluída”. Ele ressaltou a importância de levar a inflação à meta de 2% do Fed. “A inflação nos Estados Unidos ainda está muito elevada”, ressaltou, mas acrescentou que “tem havido progresso significativo”. Ele defendeu postura “resoluta” na campanha para atingir a meta, mas disse ver a política atual já “restritiva o suficiente para nos levar até lá”. Ao mesmo tempo, enfatizou que, caso ocorra piora no quadro, “certamente” apoiará que se faça mais no aperto monetário para garantir a meta.

Sobre o mercado de trabalho, o dirigente disse que ele pode estar enfraquecendo em nível mais rápido que o dado principal mensal sugere. Bostic comentou que o crescimento nas horas totais trabalhadas desacelera mais que o emprego, por causa de um aumento recente no trabalho em turno parcial. E também disse que continua o debate sobre se os salários são indicador atrasado ou antecedente para a inflação. “Não resolverei essa questão hoje”, acrescentou, mas para dizer que vê sinais de moderação no crescimento atual e futuro dos salários nos EUA.