Cerca de 300 mil anos atrás, a espécie a qual pertencemos, os Homo Sapiens, após uma jornada de aproximadamente 3,5 milhões de anos, abandonou seu parente longínquo, o Australopiteco, e rumou definitivamente a um período de evolução fantástico que nos trouxe até os dias de hoje. Para quem gosta de uma boa leitura, recomendo o excelente livro “Sapiens”, do não menos excelente escritor israelense Yuval Harari.

Aos trancos e barrancos, entre guerras, fome, pestes, genocídios e toda sorte de horrores, o homem moderno sobreviveu e construiu uma civilização fantástica, ainda que cheia de imperfeições, e ainda que suscetível a um mísero corona vírus. Mas como não nos encantarmos com celulares, foguetes, internet, exames de imagem, etc?

O mundo não poderia ser o que é sem a natureza social do homem, e essa natureza fez surgir a mais poderosa ferramenta de organização que existe, a política. Sem essa invenção espetacular, as sociedades jamais poderiam se organizar, criar regras, leis, planejar o futuro. A política, quando bem usada, é a verdadeira força motriz de uma nação bem-sucedida.

No Brasil, infelizmente, a política quase nunca foi exercitada e utilizada em prol do bem comum. Ao contrário. Ao longo dos séculos, não são poucos os casos de exploração, corporativismo, fisiologismo, corrupção e dominação elitista, do aparelho do Estado, por agentes políticos. Mas, em que pese tantas agruras, somos o que somos, para o bem ou para o mal, por causa da… Política! E, querendo ou não, estamos entre as dez maiores economias do planeta.

Minas Gerais é hoje um estado pobre, economicamente fragilizado e financeiramente quebrado. Ao longo das últimas décadas, Minas perdeu espaço na industrialização, não fez crescer seu imenso potencial turístico e deitou, enquanto o mundo ajudou, no berço esplêndido do aumento da demanda (e dos preços) das commodities agrícolas e minerais. Minas se contentou em voltar a ser aquele estado extrativista do remoto Brasil-colônia.

Recentemente, o ministro da economia, Paulo Guedes, comparou a elite do funcionalismo público a parasitas. Como não destacou o termo “elite” foi massacrado pela fala, como se sua crítica houvesse sido endereçada a professores, enfermeiros, policiais, porteiros, etc. Por óbvio, não era verdade. O rombo gigantesco nas contas públicas, sobretudo previdenciárias, não vem destas categorias assalariadas.

Os números de Minas são de assustar. O estado está realmente quebrado, como bem detalhou o secretário de planejamento Otto Levy. Não há caixa sequer para o custeio regular, vide o parcelamento dos salários e aposentadorias que já ocorre há quase cinco anos. Dinheiro para investimentos, então, nem se fala. Hospitais, escolas, estradas… Estamos condenados a um sucateamento contínuo, e não há “mágica” que mude essa dura realidade dos fatos.

Romeu Zema e seu time assumiram uma responsabilidade hercúlea. Até mesmo pela inexperiência política e desconhecimento dos mecanismos de gestão pública, muitos erros foram cometidos, por certo. Mas é inegável a busca pela modernização do estado, pela redução contínua das despesas correntes e pelo combate ao desperdício e privilégios.

Ocorre que, e aí retorno ao início deste texto, para que o Executivo possa realizar as tarefas “salvadoras”, é necessário um arranjo político, onde os demais Poderes, Legislativo e Judiciário, em cooperação franca e sincera com o Executivo, na busca de uma solução para o drama mineiro, abdiquem de dogmas ideológicos, de rinhas eleitorais e, sobretudo, dos próprios privilégios, dentre tantos, o da espetacular condição previdenciária auto concedida durante décadas.

Para se ter uma ideia, o rombo na previdência do estado, nos últimos sete anos, passou dos R$ 130 bilhões. Por extenso: cento e trinta bilhões de reais. As senhoras e senhores que me leem têm ideia do que representa isso? O dobro da arrecadação própria do estado!! Apenas para 2020, a projeção é de R$ 20 bilhões. Sabem aquela antiga expressão popular, “conta de padeiro”? Pois é. Não fecha! Ou essa questão é resolvida já, ou melhor, ontem, ou não haverá amanhã.

A política mineira está com o futuro do estado e de 21 milhões de mineiros nas mãos. No limite, está com o futuro do País nas mãos. Se a terceira maior economia do Brasil ruir, o País não passará imune. Dezenas de estados já fizeram suas reformas. À esquerda e à direita, passando pelo centro político, vinte estados já cuidaram das suas previdências. Nossos deputados, agora, decidirão qual papel representarão na história mineira: ou o de âncoras, ou o de balões.