O policial militar Fabio Anderson Pereira de Almeida, suspeito de matar um marceneiro com um tiro na cabeça, reprovou na fase de exames psicológicos em um concurso público da Polícia Científica do Paraná em 2023.
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O policial desferiu um tiro na cabeça de Guilherme Dias Santos Ferreira, de 26 anos, na sexta-feira, 4 de julho, na Zona Sul de São Paulo (SP). Fabio Anderson atirou no marceneiro enquanto ele corria para pegar o ônibus de volta para casa logo após sair do trabalho.
Os testes psicológicos, aplicados no policial mostram um comportamento de saúde mental considerado atípico, com os quesitos de concentração e frustração reprovados, segundo informações do SBT.
A banca avaliadora apontou que ‘os resultados obtidos não pressupõem a existência de transtornos mentais’, mas sinalizavam que ele ‘não atendeu aos parâmetros exigidos para o exercício das funções do cargo’.
Fabio prestava um concurso público para o cargo de auxiliar de perícia oficial na ocasião. Ao reprovar no teste psicológico, foi considerado pelo Estado inapto para assumir o cargo por falta de concentração, resistência à frustração e trabalho em equipe.
O policial então recorreu administrativamente e entrou na Justiça solicitando uma nova análise do exame e uma nova perícia. O pedido foi indeferido pelo juiz Diego Santos Teixeira em maio neste ano, e então aceitou que os documentos do teste original fossem apresentados.
Até o fim de julho a defesa de Fabio Anderson pode entrar com recurso.
Entenda o caso
Conforme o registro da ocorrência, o policial estava de folga e pilotava uma moto pela Estrada Ecoturística de Parelheiros, na Zona Sul de São Paulo, quando foi abordado por suspeitos armados em outras motos. Esses suspeitos teriam tentado roubar a moto do PM.
Fábio Anderson Pereira de Almeida reagiu e disparou contra o grupo.
Depois disso, ao ver Guilherme Dias correndo, o policial atirou em sua cabeça. Foram encontrados com a vítima o seu telefone, carteira, remédios, uma Bíblia e itens de higiene, além da marmita e talheres.
À Polícia Civil, o PM disse que pensou tratar-se de um dos assaltantes. A família da vítima usou as redes sociais para pedir justiça.
‘Não se mata por engano’, diz ouvidor da Polícia
A Ouvidoria das Polícias de São Paulo classificou como homicídio doloso a morte de Guilherme Dias Santos Ferreira.
O ouvidor Mauro Caseri solicitou à Corregedoria da Polícia Civil uma análise sobre a forma como a ocorrência foi conduzida pela delegacia que recebeu o caso. Após prestar depoimento, o policial foi liberado mediante pagamento de fiança.
A defesa do agente não havia sido localizada pela reportagem até o momento da publicação.
De acordo com a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP), a investigação está sob responsabilidade do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).
Inicialmente, o delegado de plantão classificou o caso como homicídio culposo, aquele sem intenção de matar, e determinou fiança de R$ 6,5 mil, com base no artigo 322 do Código de Processo Penal, que permite esse recurso em crimes cuja pena não ultrapassa 4 anos. Homicídio culposo prevê pena entre 1 e 3 anos.
Para o ouvidor Mauro Caseri, no entanto, o crime teve caráter doloso, ou seja, quando se assume o risco de provocar a morte, mesmo sem intenção direta. Nessa modalidade, a pena varia de 6 a 20 anos e não admite fiança.
A Ouvidoria também pediu informações à Corregedoria da Polícia Militar sobre os procedimentos adotados para investigar a conduta do PM e acionou a Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância, solicitando apuração sobre possíveis motivações raciais no episódio.
‘Lamentável e dilacerante’, diz ministra
O Ministério da Igualdade Racial vai acompanhar as investigações sobre a morte de Guilherme. Anielle Franco, responsável pela pasta, usou suas redes sociais para se manifestar sobre o caso.
“É lamentável e dilacerante chorarmos a morte de mais um jovem inocente. Guilherme Dias dos Santos Ferreira saiu do trabalho, corria para pegar o ônibus, carregava sua marmita, talheres e a bíblia, e recebeu um tiro na cabeça! O racismo institucional persiste em ‘confundir’ corpos negros. É urgente que essa realidade mude!”, escreveu a ministra.
Com informações da Agência Brasil e do Estadão Conteúdo