No momento em que o policial opta por atirar contra um suspeito em uma perseguição está acontecendo ali, acima de tudo, uma decisão emocional embasada muitas vezes por raiva ou medo. A interpretação do cientista político Leandro Piquet Carneiro, professor da Universidade de São Paulo (USP), aponta para a necessidade de treinamento que desfaça essa prática de violência, escolhendo uma saída que, ao mesmo tempo, proteja o agente e seja mais eficaz para o sucesso da ação.

As reações violentas da Polícia Militar se repetem, por quê?

Por qualquer standard internacional, isso não tem justificativa. Furar um bloqueio ou uma perseguição, ou mesmo quando há uma reação armada em uma abordagem, a primeira recomendação, que está nos procedimentos operacionais, é para evitar o confronto. Essa recorrência indica falha, sobretudo, de supervisão e controle do dia a dia da operação policial. Já há treinamentos nesse sentido, mas eles precisam ser reforçados com práticas continuadas. Tem de ser um processo desenhado para quebrar a resistência e transformar o padrão de resposta.

De onde vem essa natureza da reação?

Do treinamento insuficiente. O policial precisa aprender a controlar o medo e a raiva, o que é muito difícil porque são reações profundas. Submetidos a longas horas de trabalho, e muitas vezes a hábitos de vida pouco saudáveis, tudo isso pesa na hora da decisão, que é sempre difícil. A tarefa é criar respostas condicionadas, automáticas, nessa grande instituição, o que não é fácil.

Autoridades têm respondido no sentido de que os criminosos também têm sido mais violentos nos ataques. Como avalia?

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Isso acontece de fato e por uma razão simples: se você consegue fugir do flagrante, dificilmente uma investigação da Polícia Civil vai te localizar e prender, o que acaba criando um incentivo de fuga. Mas uma coisa é constatar isso. Outra é achar que a resposta da Polícia Militar tem de empregar cada vez mais força na ação, o que não é uma conclusão lógica.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


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