Soldado da Polícia Militar, Henrique Harrison, de 29 anos, tem lidado com intolerância em relação à sua orientação sexual. Há dois anos na corporação, o agente vem sofrendo represálias no período. Segundo ele, a situação piorou depois que ele passou a expor seu relacionamento nas redes sociais.

Em entrevista à Veja, Henrique revelou que as represálias afetaram até sua saúde e ele precisou se afastar do trabalho. “Não entrei na corporação para ser militante, mas não abri mão de me mostrar como sou. Há dois meses, fui diagnosticado com depressão e ansiedade. Estou afastado e perdi 30% dos rendimentos”, disse.

“Sigo estudando para ser delegado. Fico me perguntando: como uma instituição que deveria zelar pelos direitos humanos se enreda em tanto preconceito? Estou perdendo o medo de falar”, comentou Harrison.

Segundo Harrison, o tratamento dos colegas mudou quando ele assumiu o namoro com o atual marido. Ele também levou oito punições por infrações, como quando foi punido “por acharem um pelo em sua farda”. Conforme o relato de Henrique, a mesma situação não acontecia com os colegas.

Formado em direito, Henrique não se intimidou e levou o namorado a sua festa de formatura. “No dia seguinte, chegou um áudio no WhatsApp de um coronel aposentado, dizendo que eu estava arruinando uma imagem construída ao longo de dois séculos de corporação. O áudio circulou pela PM Brasil afora. Recebi ameaças e tive muito medo”, relatou.

O caso acabou ganhando notoriedade e onze pessoas foram indiciadas pelo crime de homofobia. Logo após o episódio, Harrison fez um vídeo falando sobre sua experiência na corporação e do quanto se sentia “acuado” e publicou nas redes sociais. Depois da filmagem, foi aberta uma sindicância por ele estar portando uma arma em condição imprópria. Em sua defesa, o soldado contou que a arma era uma réplica e que, mesmo assim, pediram que deixasse o objeto de verdade no batalhão.

Henrique denunciou a situação à Câmara Legislativa e acabou recebendo uma nova sindicância da corporação. “Dessa vez afirmando que eu mentia. Entendi como um cala-boca. A PM não gosta desse tipo de publicidade. E as represálias não cessaram. Me puniram pelo tal vídeo com a réplica da arma”, afirmou.

“Pedi que a revissem e aguardo resposta. A punição macula a minha ficha — somada a outras, pode levar à expulsão da PM. Recentemente, instauraram mais uma, também sem motivação razoável, só por me assumir gay”, concluiu Harrison.