ROMA, 08 ABR (ANSA) – O policial militar italiano Francesco Tedesco relatou nesta segunda-feira (8), durante julgamento na Corte de Apelação de Roma, as agressões que levaram à morte do geômetra Stefano Cucchi, falecido em 22 de outubro de 2009, enquanto estava sob custódia do Estado.
Em outubro passado, Tedesco havia protagonizado uma reviravolta no caso – que virou tema do filme “Na Própria Pele”, do Netflix -, ao acusar dois colegas de Arma dos Carabineiros, Alessio Di Bernardo e Raffaele D’Alessandro, de terem espancado Cucchi na delegacia.
Na audiência desta segunda, o policial pediu “desculpas” à família do geômetra e contou os episódios que levaram à sua morte. De acordo com seu relato, Cucchi, que havia sido preso por portar 20 gramas de haxixe, se recusava a registrar as impressões digitais na delegacia.
“Saímos da sala, e a discussão com Alessio Di Bernardo prosseguiu. Em certo ponto, Di Bernardo deu um tapa violento em Stefano. Cucchi caiu no chão, batendo a cabeça, e Raffaele D’Alessandro deu um chute na cara dele”, disse Tedesco, que é réu por homicídio, assim como seus dois colegas.
“Não era fácil denunciar meus colegas. O primeiro a quem contei isso foi meu advogado. Em 10 anos, não tinha contado para ninguém”, acrescentou o policial, ressaltando que estava “literalmente aterrorizado”.
Ainda de acordo com Tedesco, o marechal Roberto Mandolini, responsável pela delegacia, lhe disse que ele deveria “seguir a linha da Arma se quisesse continuar sendo carabineiro”.
Mandolini é réu por calúnia e falso testemunho, enquanto outro agente, Vincenzo Nicolardi, responde por calúnia.
Quando já estava na penitenciária de Regina Coeli, a maior de Roma, Cucchi acabou internado na ala protegida do hospital Sandro Pertini, onde morreu. A autópsia revelou que o italiano de 31 anos e 1,76 metro de altura pesava 37 quilos quando faleceu, indicando um estado de desnutrição. Seu corpo também apresentava diversos hematomas, inclusive no rosto.
“Após 10 anos de mentiras, a verdade foi contada em viva voz por quem estava presente naquele dia”, disse Ilaria Cucchi, irmã de Stefano e que nunca desistiu de comprovar a culpa da polícia no caso.
Em um primeiro processo, seis médicos e três enfermeiros foram acusados de abandono de incapaz, e três membros da Polícia Penitenciária, de lesões agravadas e abuso de autoridade. A denúncia, baseada em falsos testemunhos dos carabineiros, apontava que os carcereiros haviam usado força excessiva contra a vítima e que os agentes de saúde tinham-no deixado morrer de fome.
Todos acabaram absolvidos por falta de provas. Em dezembro de 2015, a Procuradoria de Roma iniciou uma nova investigação, desta vez contra carabineiros acusados de agredirem Cucchi e de agir para “atrapalhar a correta reconstrução dos fatos”. (ANSA)