Centenas de policiais protestaram nesta quarta-feira na França para denunciar “o ódio aos policiais”, uma demonstração rara à margem da qual uma contra-manifestação degenerou em Paris com um veículo da polícia incendiado.

Os policiais, que receberam a gratidão dos franceses após os ataques de 2015, dizem que estão “cansados” das tarefas impostas pelo estado de emergência.

Além disso, têm sido alvos da violência de pequenos grupos radicais durante os recentes protestos sindicais contra uma reforma trabalhistas. Assim, convocaram protestos em sessenta cidades do país.

A maior manifestação aconteceu em Paris, na simbólica Praça da República, lugar de memória dos ataques de 2015.

Neste mesmo local, uma contra-manifestação que não foi autorizada degenerou em violência no início da tarde. Os participantes, que gritavam: “policiais, porcos, assassinos” ou “todo mundo odeia a polícia”, foram afastados da praça com gás lacrimogêneo.

Um pequeno grupo lançou com um coquetel Molotov em um veículo da polícia ocupado por dois agentes que precisaram sair às pressas, de acordo com a polícia.

Em frente ao veículo carbonizado, pessoas desconhecidas deixaram um cartaz: “frango assado, preço livre”, constatou um jornalista da AFP.

Na praça, policiais se reuniram sob a proteção de um cordão de guardas e barreiras.

“Estamos fartos de sermos questionados de forma sistemática e de apanharmos”, denunciou um policial à AFP. “Temos de parar os líderes, sabemos quem são”, afirmou em referência aos vândalos.

Imagens de vândalos, de vitrines quebradas e policiais feridos foram projetadas em uma tela gigante, sob as vaias dos manifestantes.

Mais de 350 membros das forças de segurança ficaram feridos durante as manifestações sociais das últimas semanas, de acordo com as autoridades.

“Eu nunca vi isso”, disse à AFP Arnaud, CRS há vinte anos. “Os vândalos (…) estão perfeitamente organizados, recolhem tudo o que encontram no chão e nos atacam. Sem pilhagem, somente para atingir os policiais”.

Governo criticado

Do lado dos manifestantes, eles denunciam a brutalidade da intervenção da polícia, com vídeos postados nas redes sociais para apoiá-los. Um jovem perdeu a visão de um olho depois de ser ferido no final de abril em Rennes (oeste).

Trinta investigações da “polícia da polícia” sobre a suposta violência policial foram abertas.

O ministro do Interior, Bernard Cazeneuve, expressou nesta quarta-feira seu “total apoio” à polícia.

Mas líderes da esquerda e sindicais, bem como da Liga dos Direitos Humanos, criticam a gestão da manutenção da ordem pelo governo.

Aplaudidos após os atentados de janeiro de 2015 em Paris (17 mortos, incluindo três policiais) por todo um país traumatizado, a polícia ainda assim goza de uma “imagem excepcional”, com 82% dos franceses com uma boa opinião, de acordo com um pesquisa divulgada nesta quarta-feira.

Mas os franceses também são predominantemente contra (58%) o projeto de reforma trabalhista que alimenta a contestação social.

O presidente socialista François Hollande declarou nesta terça-feira que não iria desistir desta reforma, que fez passar sem o voto parlamentar por falta de maioria.

Sobre os vândalos, “já basta, e isso não vai ficar sem resposta!”, ressaltou Francois Hollande.

A menos de um ano da eleição presidencial e num momento em que a popularidade do chefe de Estado está em seu menor nível, a aplicação da lei é convidada a ser um dos temas de campanha.

A oposição de direita e a extrema-direta aumentaram nos últimos dias suas acusações. Marine Le Pen, presidente da Frente Nacional (extrema-direita), denunciou na terça-feira “a frouxidão total” do poder frente às “milícias de extrema-esquerda”.

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