ROMA, 14 JAN (ANSA) – A Guarda de Finanças da Itália realizou nesta quinta-feira (14) uma inspeção no Ministério da Saúde, em Roma, para obter documentos relativos ao plano antipandemias do governo.
A ação ocorreu no âmbito de um inquérito do Ministério Público de Bergamo para apurar eventuais responsabilidades nas mortes registradas na primeira fase da crise sanitária.
A província foi o epicentro da pandemia na Itália no primeiro semestre de 2020, e familiares de vítimas do novo coronavírus denunciaram a falta de equipamentos de proteção em hospitais bergamascos e a demora das autoridades para impor um lockdown.
Um dos pilares da investigação do MP de Bergamo é a suposta falta de um plano antipandemias. Segundo um relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) que chegou a ser removido do site da entidade, o plano italiano não era atualizado desde 2006.
A última versão do documento data de 2017, mas o texto é praticamente igual ao de 11 anos antes. Por conta disso, os agentes da Guarda de Finanças apreenderam arquivos para entender como o plano antipandemias de 2017 foi elaborado.
Os policiais também estiveram no Instituto Superior da Saúde, órgão ligado ao governo italiano, nas agências sanitárias de Bergamo e na Secretaria de Bem-Estar Social da Lombardia, região onde fica a província bergamasca.
Denúncias – No fim do primeiro semestre de 2020, familiares de vítimas da Covid-19 levaram ao MP de Bergamo mais de 100 denúncias de supostas negligências e falhas no início da pandemia.
As ações questionam o motivo de não ter sido decretado um lockdown imediato no Vale Seriana, epicentro da pandemia na província, e a decisão de não fechar o hospital de Alzano Lombardo, de onde o coronavírus começou a se espalhar por Bergamo.
As denúncias também citam a suposta falta de informações para os pacientes e parentes sobre os riscos de infecção, especialmente no início da pandemia; a ausência de dispositivos de proteção em hospitais; e a escassez de médicos para a gestão domiciliar de doentes sem necessidade de internação.
A província de Bergamo registrou seus primeiros casos em 23 de fevereiro, mas só entrou em lockdown em 9 de março, com o restante da Lombardia. A postura das autoridades divergiu daquela adotada com as 11 cidades que diagnosticaram os primeiros contágios por transmissão interna na Itália, em 21 de fevereiro.
Naquela ocasião, os 11 municípios – sendo 10 na província de Lodi, na Lombardia, e um na província de Pádua, no Vêneto – foram transformados imediatamente em “zona vermelha”, um regime rígido que incluía até toque de recolher.
O primeiro-ministro Giuseppe Conte, o governador da Lombardia, Attilio Fontana, e o ex-secretário de Bem-Estar Social da região Giulio Gallera já foram ouvidos pelo MP de Bergamo, mas como “testemunhas informadas sobre os fatos”, já que nenhum deles é investigado. (ANSA).