A Polícia Federal prendeu preventivamente, nesta quarta-feira (19), o ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (PMDB/RJ), arquiteto do impeachment de Dilma Rousseff e investigado pela Operação Lava Jato, que também tem sob sua mira o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A prisão de Cunha, deputado cassado que como presidente da Câmara dos Deputados chegou a ser o segundo na sucessão presidencial, foi pedida pelo Ministério Público Federal devido ao risco de que fugisse ou tentasse obstruir as investigações dos muitos processos contra ele.

“A liberdade do ex-parlamentar representava um risco à instrução do processo, à ordem pública, como também a possibilidade concreta de fuga, em virtude da disponibilidade de recursos ocultos no exterior, além de sua dupla nacionalidade brasileiro-italiana”, destacou o MPF em um comunicado.

Cunha, de 58 anos, foi preso em Brasília, onde embarcou em um avião da Polícia Federal (PF) com destino a Curitiba, onde está à disposição do juiz Sérgio Moro, encarregado dos processos que investigam suspeitos sem foro privilegiado, como passou a ser o caso de Cunha, após a cassação do mandato parlamentar.

Até pouco tempo articulador da agenda política brasileira, Eduardo Cunha, economista e militante evangélico, foi cassado no mês passado por seus colegas por omitir contas bancárias na Suíça, em uma nova página da longa crise política que atinge o país.

Moro ordenou sua prisão por um caso que investiga se recebeu US$ 1,5 milhão, desviado da Petrobras por uma compra de direitos para explorar um campo petroleiro na República de Benin, na África, que custou US$ 34,5 milhões e foi infrutífera.

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Os investigadores sustentam que Cunha incorreu em crimes contra o Estado e que lavou dinheiro “de forma reiterada, profissional e sofisticada”, com emprego de extorsão e o uso de contas secretas no exterior para ocultar e dissimular o produto de seus crimes.

Cunha qualificou sua prisão como absurda em um breve comunicado difundido nas redes sociais.

Luxo

Para a Justiça, Cunha dava apoio político ao ex-diretor da área internacional da Petrobras, Jorge Zelada, em troca de propina, que usava para manter um padrão de vida desproporcionalmente alto para sua renda.

“Parte da propina teria sido destinada a contas no exterior em nome de offshores ou trusts que alimentavam cartões de créditos internacionais usados pelo ex-parlamentar e seus familiares” para custear viagens, estadias em hotéis e “compras de artigos de luxo no exterior”, destaca o texto.

Parte destas aquisições foram realizadas com um cartão “diretamente vinculado diretamente a Cláudia Cordeiro Cruz”, esposa de Cunha.

A filha do ex-parlamentar, Danielle, também é salpicada no escândalo.

A rápida derrubada de Cunha se deu pelas mãos da Operação Lava Jato, força-tarefa que desvendou um esquema de propinas empresariais a diretores da Petrobras, designados por partidos políticos para manipular licitações, superfaturar obras e distribuir o excedente para enriquecer e financiar campanhas.

Segundo os investigadores, as perdas geradas podem chegar a US$ 12 bilhões.

Ex-homem forte do Congresso tem ao menos a outros seis processos abertos, que incluem acusações de abuso de poder e de manobrar para obstruir a Justiça. Por um deles, exige-se que restitua ao Estado US$ 80 milhões.

‘House of Cards’ à brasileira


Comparado a Frank Underwood, o personagem manipulador da série “House of Cards”, Cunha disse que escreverá um livro contando os bastidores do impeachment, o qual articulou.

Durante suas alegações finais na Câmara, na noite em que foi cassado, Cunha lembrou a seus pares que pelo menos 160 deles têm problemas com a Justiça, acenando com uma possível delação premiada.

“Ele tem um efeito, tem um potencial destrutivo muito grande do sistema. Ele foi aliado do governo Dilma e Lula, ele pode ser ruim para todo o mundo, para todo o sistema”, disse à AFP o diretor do Instituto Análise, Alberto Almeida.

O ex-parlamentar, um evangélico praticante do mesmo PMDB do presidente Michel Temer, foi quem aceitou o pedido de impeachment que afastou Dilma Rousseff do cargo em maio e levou à sua destituição em 31 de agosto.

O impeachment pôs fim a um ciclo de mais de 13 anos de poder do Partido dos Trabalhadores (PT), iniciado por Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010).

“Lula é o próximo”

A Operação Lava Jato lançou luz a um esquema de propinas empresariais a diretores da Petrobras, nomeados por partidos políticos para manipular licitações, superfaturar obras e distribuir o excedente para enriquecer e financiar campanhas.

Segundo os investigadores, os prejuízos podem chegar a 12 bilhões de dólares.

O caso, que levou políticos e grandes empresários à prisão, aproxima-se do próprio Lula.

O ex-presidente é réu em três processos: um, por supostamente ter recebido propina de 3,7 milhões de reais na forma de um apartamento e no pagamento do armazenamento de seus bens; outro, por ajudar a empreiteira Odebrecht a ganhar contratos em Angola; e o terceiro, por tentativa de obstrução da Justiça.

“Tenho a consciência tranquila e o reconhecimento do povo. Confio em que, cedo ou tarde, a Justiça e a verdade prevalecerão, mesmo que seja nos livros de História”, escreveu Lula em coluna na Folha de S. Paulo publicada nesta na terça-feira (18).

Para o analista Alberto Almeida, não há sombra de dúvida. Depois de ter dado um forte golpe na direita, Moro voltará o foco para o até pouco tempo atrás intocável líder da esquerda latino-americana.


“Lula é o próximo. Tudo indica que é o próximo”, afirma.

“Cunha é um símbolo do PMDB e Lula é o símbolo máximo do PT”, explica.


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