Polícia desaloja histórica ocupação de esquerda em MiIão

MILÃO, 21 AGO (ANSA) – A polícia da Itália desalojou nesta quinta-feira (21) uma histórica ocupação promovida por um grupo anarquista e anticapitalista em um prédio de Milão, operação que se tornou motivo de polêmica entre o governo e opositores.   

O centro social “Leoncavallo” surgiu em 1975, em uma área abandonada na rua Ruggero Leoncavallo e ocupada por movimentos revolucionários de esquerda. Em 1994, o grupo se transferiu para uma antiga fábrica de papel desativada pertencente à família Cabassi, onde estava desde então.   

O espaço foi desalojado em uma operação surpresa da polícia, já que a medida estava prevista para 9 de setembro, após diversos adiamentos.   

“Em um Estado constitucional, não pode haver zonas francas ou áreas removidas da legalidade”, disse a premiê de direita da Itália, Giorgia Meloni, em uma publicação nas redes sociais sobre a ação.   

“Ocupações ilegais são uma ameaça à segurança, aos cidadãos e às comunidades que respeitam as regras. O governo continuará garantindo que a lei seja respeitada, sempre e em qualquer lugar”, salientou.   

O vice-premiê e ministro da Infraestrutura, Matteo Salvini, um dos maiores críticos dos centros sociais, também elogiou a desocupação. “Finalmente as coisas mudaram. A lei é a mesma para todos: fora!”, declarou.   

Por outro lado, o prefeito de Milão, Giuseppe Sala, de centro-esquerda, declarou que o Executivo municipal não tinha sido avisado sobre o despejo e descreveu o Leoncavallo como um “valor social e histórico de nossa cidade”.   

Em 2024, a Corte de Apelação de Milão havia determinado que o Ministério do Interior pagasse 3 milhões de euros à família Cabassi por não ter cumprido uma ordem de desalojar a antiga fábrica, e a pasta cobrou o dinheiro de Marina Boer, presidente da associação Mamme del Leoncavallo (Mães do Leoncavallo).   

Boer chegou a lançar uma vaquinha para juntar o dinheiro, mas a iniciativa não deu certo. “É uma tragédia, mas não é o fim”, garantiu ela, que pretende dialogar com a Prefeitura de Milão para encontrar um novo espaço para os ativistas.   

Centros sociais se popularizaram em grandes cidades da Itália nos anos 1980 e 1990 como símbolos da contracultura e do ativismo político de esquerda, levando uma série de atividades para imóveis abandonados.   

O próprio Leoncavallo já recebeu o rapper Fedez, a banda Modena City Ramblers e o escritor e dramaturgo Dario Fo, vencedor do Nobel de Literatura em 1997, bem como sua esposa, a atriz e dramaturga Franca Rame.   

Após o desalojamento, políticos de oposição acusaram o governo Meloni de celebrar a operação contra o Leoncavallo e “tolerar ocupações neofascistas”, como a do quartel-general do movimento de extrema direita CasaPound em Roma.   

“Um espaço cultural, social e político ativo há mais de 30 anos em Milão, que deu voz a gerações de jovens, artistas e ativistas, é definido como uma simples ‘ilegalidade’, enquanto o imóvel ocupado pelos fascistas do CasaPound no coração de Roma permanece intocável”, declarou o deputado de esquerda Angelo Bonelli. (ANSA).