A polícia nicaraguense retirou nesta sexta-feira (19) de sua residência o bispo de Matagalpa e crítico do governo, Rolando Álvarez, onde estava retido nas últimas duas semanas, investigado por “desestabilizar” o país.

“A Polícia Nacional entrou na Cúria Episcopal de nossa Diocese de Matagalpa e levou” Monsenhor Álvarez; “O paradeiro dele ainda é desconhecido (…) alertamos a comunidade internacional e nos juntamos à corrente de oração”, disse no Twitter o Conselho Episcopal da América Latina e do Caribe (Celam).

“Eles o tiraram com violência e não se sabe para onde o levaram”, informou à AFP Vilma Nuñez, presidente do Centro Nicaraguense de Direitos Humanos (Cenidh), com base em várias fontes consultadas por sua organização em Matagalpa. Até o momento não há informações oficiais sobre o caso.

A própria diocese de Matagalpa (norte) alertou na madrugada de sexta-feira sobre a entrada da polícia na residência do bispo.

“SOS. Urgente. Neste momento, a Polícia Nacional entrou na Cúria Episcopal de nossa Diocese de Matagalpa”, publicou no Facebook.

Álvarez, bispo da diocese de Matagalpa, no norte do país, estava confinado em sua cúria junto com uma dezena de pessoas desde 4 de agosto passado.

A reclusão do bispo ocorreu dias depois que ele denunciou o fechamento por parte das autoridades de cinco emissoras católicas e exigiu respeito pela “liberdade” religiosa do governo de Daniel Ortega.

A polícia anunciou que a Diocese de Matagalpa está sendo investigada por tentar “organizar grupos violentos” e incitar “ódio” para “desestabilizar o Estado da Nicarágua”.

“Estamos nas mãos de Deus”, disse o prelado na quinta-feira.

A retenção do bispo ocorreu em meio ao atrito que a Igreja tem com o governo de Ortega, ex-guerrilheiro de 76 anos que está no poder desde 2007, amparado por três reeleições sucessivas. A última aconteceu em novembro de 2021, com seus adversários presos ou exilados e em meio a questões internacionais.

O presidente acusa os bispos de “golpistas” por apoiarem os protestos da oposição que pediram sua renúncia em 2018.

Em meio à crise, a Igreja tentou em 2018 e 2019 mediar um diálogo entre o governo e a oposição.

O presidente censurou os bispos por terem aceitado uma proposta da oposição que buscava resolver a crise adiantando as eleições de 2021 para encurtar seu mandato presidencial.

Desde então, as relações se deterioraram. Este ano aconteceu o fechamento de meios de comunicação católicos, incluindo o canal da Conferência Episcopal, e a recente prisão do padre Oscar Benavídez, por razões desconhecidas.

A Associação Missionárias da Caridade, da ordem de Madre Teresa de Calcutá, que deixou o país em julho, também foi proibida. Em março, o núncio apostólico Waldemar Sommertag, que participou em 2019 das negociações entre governo e oposição, já havia sido expulso.