A Polícia Civil do Rio Grande do Sul anunciou, em coletiva realizada nesta quarta-feira, 12, o indiciamento de sete pessoas após a conclusão de três inquéritos policiais referentes a pet shops que deixaram animais dentro de lojas inundadas durante as enchentes que atingiram o estado no mês de maio.

Duas propriedades da rede de pet shops Cobasi estariam envolvidas, conforme as forças de segurança. A apuração das autoridades sugere que os estabelecimentos não retiraram devidamente os animais das lojas, fazendo com que os pets morressem em decorrência das enchentes, acusação que configura maus-tratos.

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Uma das lojas investigadas era localizada no subsolo do shopping Praia de Belas, em Porto Alegre. Os 175 animais que eram vendidos pelo estabelecimento foram abandonados no local e, segundo a Polícia Civil, todos morreram em decorrência da inundação. De acordo com as autoridades, foram identificadas 38 carcaças de espécimes na propriedade, que anunciava peixes, aves e roedores.

Alguns equipamentos eletrônicos do estabelecimento foram salvos pelos funcionários, que teriam optado por os colocar no mezanino ao invés dos animais. Os aparelhos foram apreendidos pelas autoridades.

A delegada Samieh Saleh, da Dema (Delegacia do Meio Ambiente), responsável pelo caso, afirmou que duas gerentes da loja e outra regional, além de administradores do shopping e uma veterinária que cuidava dos animais foram ouvidos.

As duas gerentes da loja e a regional foram indiciadas acusadas de ter o conhecimento de que poderia ocorrer uma inundação no pet shop. O CNPJ da sede e da filial da Cobasi no shopping Praia de Belas também foram incluídos no inquérito.

Segundo Samieh Saleh, uma outra unidade da Cobasi, que abrigava 348 espécimes, também teria abandonado animais dentro da loja. Os pets só foram resgatados oito dias depois, quando uma equipe de resgate de voluntários recebeu uma denúncia e arrombou o estabelecimento.

O local estaria insalubre e uma ave e peixes foram encontrados mortos, mesmo não tendo sido alcançados pela água. O número de animais resgatados não foi divulgado.

“Por que uma empresa bilionária não tomou a decisão de ir retirar esses animais antes?”, questiona a delegada, alegando que a altura da água não dificultava um resgate. “Houve uma omissão muito grande por parte de todos os representantes da loja, tanto os gerentes regionais quanto locais”, pontuou Samieh Saleh.

Dois responsáveis pelo petshop Bicharada também foram indiciados no caso acusados de terem abandonado os animais.

Procurada pela IstoÉ, a Cobasi manifestou indignação com a conclusão das autoridades policiais. Confira o posicionamento da empresa na íntegra abaixo.

Posicionamento da Cobasi:

A defesa da Cobasi manifesta sua completa indignação com qualquer fala que indique a possibilidade de que, ao final das exaustivas investigações, a autoridade policial venha a proceder ao formal indiciamento de qualquer de seus colaboradores.

A equipe da loja localizada no shopping Praia de Belas —assim como toda a população e autoridades do RS —, foi surpreendida por um evento da natureza de proporções imponderáveis, estado de coisas que, por si só, já tornaria incogitável que a causa da morte dos animais da loja
possa ser distorcida para uma acusação de crime doloso que demandaria, inclusive, requintes de crueldade em sua configuração.

É lamentável que em torno desse capítulo da tragédia, que afetou impiedosamente todo o povo gaúcho, esteja sendo construída uma narrativa famigerada e inverídica. Por fim, causa espécie que se venha ignorando por completo as iniciativas tomadas pela administração do shopping Praia de Belas no endereçamento da situação, proibindo o ingresso de funcionários da Cobasi nas suas dependências, ao mesmo tempo em que emitia repetidos comunicados aos lojistas, informando-os que a situação encontrava-se administrada.

A defesa da Cobasi acredita que, a despeito da repercussão midiática que o lamentável episódio ganhou, seu desfecho não virá a partir de contorcionismos jurídicos e conclusões levianas.