Um amigo muito querido – e muito sarcástico também – toda vez que me encontra, me saúda: “Ricardo ‘opinião sobre tudo’ Kertzman”. Sei que é uma crítica, ainda que carinhosa e até procedente, mas é o ônus, ou bônus (a depender do gosto de quem lê), de se manter bem-informado, saber escrever e ter veículos dispostos a me publicar.

O assunto desta coluna, conforme deixa (quase) claro o título, é o debate em torno da mundialmente famosa e badalada banda inglesa de rock alternativo, Coldplay, fundada em 1996, na Inglaterra, pelo vocalista e pianista Chris Martin e o guitarrista Jonny Buckland. Os caras estiveram no Brasil recentemente e mandaram bem demais – outra vez!!

Porém, há quem pense e diga o contrário. Há quem ache as músicas comuns e repetitivas, o show “enlatado” e os músicos politicamente corretos além do necessário, interessados em agradar à agenda ESG (Environmental, Social and Governance), em tradução livre: governança ambiental, social e corporativa – uma tendência mundial.

No show do Rock in Rio deste ano, sábado passado (10/09), o grupo, dentre outros mimos à multidão de fãs, distribuiu 100 mil pulseiras de led colorido, dotadas de inteligência artificial, que mudavam de cor ao sabor dos ventos, digo, das músicas. Mas não só: mochilas vibratórias também, para os deficientes auditivos e visuais presentes.

Além disso, em discurso francamente sincero, Chris, o líder, agradeceu ao público pela presença, de forma bastante específica e atenta: agradeceu pelo enfrentamento à chuva torrencial, pelo trânsito caótico e até mesmo por pagarem o caríssimo preço do ingresso. Foi como penetrar “em todas as merdas que passaram” os fãs para prestigiar a banda.

Sim, a frase acima está entre aspas porque foi literalmente o que disse o cantor. Talvez por isso, como pagamento (payback), ele tenha tocado e cantado ao ar livre – fora da cobertura do palco – e levado muita água e vento na fuça, e tenha, também, chamado os colegas para se juntarem a ele, arranhando refrões em português da música Magic.

A discussão nas redes sociais e na internet, inclusive por gente especializada da Música e do Showbiz, é sobre a autenticidade do Coldplay. Alguns dizem que tudo isso se trata de marketing. Outros, que é sintonia e respeito aos fãs. Alguns, ainda, que a banda se mantém na vanguarda e que “dança conforme a música”, atualizando-se com frequência.

Particularmente, acredito que seja de tudo um pouco, até porque não são excludentes. Ora, fidelizar clientes é comum e necessário, e fãs são clientes. Ou não? Manter-se em linha com as tendências sociais e de mercado, idem. Reciclar-se e adaptar-se a novos tempos e hábitos de consumo, igualmente. Sem falar na qualidade do produto, é claro.

Estive lá com minha filha adolescente, e ela adorou. Minha esposa e meu cunhado, ambos cinquentões, adoraram. Meus sobrinhos, adultos jovens, também. E vi muitas crianças com os pais. Resta-me claro, portanto, que música boa, tecnologia de ponta, causas nobres e respeito ao consumidor, quando juntos, mais que estratégia comercial, é inteligente.

Eu não poderia encerrar este texto sem tocar na maldita política, é claro. Raríssimos os políticos entregam o que nos prometem. Mais raro ainda do que nos entregar, é valer o quanto custam. O Coldplay não promete nada e entrega, senão muito, o suficiente. É uma troca justa! Não à toa, há mais de 25 anos faz tanto sucesso em todo o mundo.

Agora, meus caros, imaginem Lula da Silva, o meliante de São Bernardo, ou Jair Bolsonaro, o verdugo do Planalto, entregando 10% do que nos promete, custando 5% do que nos custa. O Brasil seria, deixe-me ver, a Suécia. E o pilantra – seja qual for, pois ambos são – uma espécie de Coldplay. Menos pior que existe vida fora da política, não é mesmo?