A temida guerra entre bolsonaristas e petistas no 1° de Maio foi um anticlímax. Virou uma batalha de Itararé, aquela que nunca aconteceu. Em São Paulo, os apoiadores do presidente se esforçaram para criar uma pequena aglomeração, rivalizando com ambulantes que disputavam a avenida Paulista franqueada aos pedestres. A festa do trabalhador na praça Charles Muller, no Pacaembu, tinha como estrela o próprio Lula. Mas os locutores aos berros tentavam atrair uma massa que simplesmente não apareceu. O petista precisou colar seu discurso com a apresentação de Daniela Mercury, e nem isso fez o show decolar.

A cidade já está farta dos megafones. A polarização e a mobilização permanente dos militantes petistas, que chegou à saturação junto com o colapso do governo Dilma, foi suplantada nos últimos anos por um barulho ainda maior dos bolsonaristas, que tentam dominar as praças públicas. Querem recuperar no berro a popularidade perdida pelo presidente, como se isso fosse possível defendendo o golpe e uma nova ditadura.

A população vive alheia a essa cacofonia, mais preocupada com a inflação. Mesmo assim, esses dois polos conseguiram capturar o noticiário político e a expectativa eleitoral. Lula e Bolsonaro, líderes carismáticos, canalizam as atenções. Os dois vendem ilusões. O atual mandatário fez uma gestão econômica desastrosa que levou o dólar à altura, trouxe a inflação de volta e já prepara o fim da responsabilidade fiscal. Lula quer “abrasileirar” o preço da gasolina, criar uma moeda comum na América Latina e reativar os Brics para driblar os EUA. Também parece confortável com a volta da inflação, que favorece governos perdulários e mascara o descalabro com as contas públicas, às custas do dinheiro do contribuinte.

Os dois presidenciáveis não têm sido claros em suas propostas para a economia porque não têm projeto para a retomada do crescimento. Sentem-se confortáveis com slogans populistas e acenos para o corporativismo que asfixia o ambiente econômico há décadas. O clã Bolsonaro insinua que pode rifar Paulo Guedes, tentando se dissociar da atual crise jogando a culpa no ministro desacreditado. Lula não nomeia um porta-voz porque não tem propostas factíveis. Só sinaliza com receitas requentadas e fracassadas. É um ambiente turvo que lembra a falta de perspectiva e as propostas excêntricas que circulavam nos anos 1990, na véspera do plano econômico que estabilizou a moeda, garantiu o respeito aos contratos e começou a racionalizar as contas públicas com transparência. Se essa polarização não for superada, o País caminha para o enterro do Plano Real.