Peter Dinklage está acostumado com ditadores sanguinários. No papel de Tyrion Lannister, em “Game of Thrones”, lidou com reis e imperadores cruéis e impiedosos, que não pensavam duas vezes antes de oprimir seus povos e esmagar os inimigos. O ator volta ao tema, mas agora a vida real tomou o lugar da ficção: ele é o produtor e narrador da série documental “Como se Tornar um Tirano”, estreia da Netflix. A produção apresenta o “manual” usado por seis ditadores para chegar e se manter no poder. Por meio de animações e uma narração didática, a produção revela as estratégias de Adolph Hitler (Alemanha), Joséf Stalin (Rússia), Muamar Kadafi (Líbia), Saddam Hussein (Iraque) e King Jong-un (Coréia do Norte) para dominar seus povos.

Táticas autoritárias

Hitler abre a série com a premissa básica de todo tirano: a receita para chegar ao poder. Além do narcisismo doentio, ele criou um manifesto e se apresentou demagogicamente como o porta-voz da indignação reinante, um “homem do povo”. Como líder, usou o poder da imagem e inventou o marketing político ao popularizar filmes de Leni Riefenstahl e propagar um símbolo visual forte — pesquisa recente revelou , infelizmente para a humanidade, que a suástica é a marca mais poderosa da história.

O episódio seguinte mostra a tática principal de Saddam Hussein: eliminar os rivais. O ditador iraquiano estabeleceu uma pequena elite dominante, mas instigou a desconfiança uns nos outros. Ao deixar claro que eram todos descartáveis, até mesmo parentes próximos, criou a tensão que o manteve no poder durante 24 anos. O ditador de Uganda, Idi Amin Dada, seguiu as perversas cartilhas de Hitler e Saddam. Conseguiu, no entanto, instaurar um reino de terror ainda mais cruel, que durou os oito anos em que governou o país africano: assassinou 300 mil pessoas, 1% de toda a população local. Inventou um bode expiatório, mas se deu mal: foi vencido pela Tanzânia, país a quem ele declarou guerra. Idi Amin foi deposto e morreu no exílio, em 2003, na Arábia Saudita.

Verdade controlada

O russo Joséf Stalin escolheu como método o controle da verdade. Foi pioneiro na manipulação de fotos para criar factoides e reescrever a história a seu favor. Descobriu o poder nefasto da censura e dos “idiotas úteis”, como ele chamava os jornalistas e artistas ocidentais que promoviam suas verdades no exterior — o comunismo, de forma absurda, é defendido por alguns até hoje. Já Muamar Kadafi, da Líbia, governou por 42 anos usando a ferramenta da doutrinação da população. Apagou a história do país antes de seu nascimento e fez as crianças estudarem uma única fonte de informação: o “livro verde” — com seus ensinamentos, é claro. Chegou a exportar sua revolução bancando movimentos subversivos em outros países, mas caiu de forma trágica: após ser deposto, foi torturado e assassinado pelos rebeldes que lhe tomaram o poder.

Os únicos tiranos que ainda estão no poder integram a família que governa a Coreia do Norte desde 1948. As táticas usadas por Kim Il-sung, Kim Jong-il e Kim Jong-un (avô, pai e neto) são as mais estranhas possíveis. Além das já citadas anteriormente, acrescentaram o conceito “Juche”, suposto elogio à autosuficiência que serve de desculpa para fechar o país ao mundo exterior. Retratados como divindades em imagens espalhadas por suas cidades, gastaram todo o orçamento na aquisição de armas nucleares — acreditam que isso os manterá no poder para sempre. “Como se tornar um tirano” traz lições para que todos nós possamos nos defender e não acreditar em mentiras populistas.