09/05/2020 - 9:57
A Academia Brasileira de Letras (ABL) lançou esta semana em seu site o primeiro podcast (arquivo digital de áudio transmitido pela internet), homenageando o centenário do acadêmico, jornalista e escritor Carlos Castelo Branco, o “Castelinho”, que será completado no dia 25 de junho. Saudado pelo também acadêmico Cicero Sandroni, Castelo Branco manteve por décadas uma coluna no Jornal do Brasil, considerada um marco do jornalismo político.
As próximas edições dos podcasts da ABL vão homenagear os centenários do poeta e diplomata João Cabral de Melo Neto e do escritor e economista Celso Furtado, nascidos em 9 de janeiro e 26 de julho de 1920, respectivamente. Eles são reverenciados pelos acadêmicos Antonio Carlos Secchin e Antonio Cicero (João Cabral de Melo Neto) e Edmar Bacha (Celso Furtado).
Cada episódio abordará aspectos da obra e da vida dos acadêmicos. Os podcasts serão publicados às quartas-feiras no site da ABL, bem como em suas redes sociais e nas plataformas Spotify, Deezer e Apple.
Sociabilidade
Em entrevista à Agência Brasil, o presidente da ABL, professor Marco Lucchesi, destacou que atualmente, em razão da pandemia do novo coronavírus, é preciso aprender nova forma de sociabilidade “que tem mostrado uma perspectiva de um mundo virtual, em que muitos passaram a fazer parte dessa inclusão”.
Lucchesi disse que, no momento, todas as ferramentas virtuais se tornaram necessárias porque se perdeu um tipo de organização social ao qual as pessoas estavam acostumadas e é preciso construir outra organização. “Busca-se ter segurança, mas isso não significa que não devemos dialogar, sobretudo em um momento em que o diálogo parece tão escasso no mundo. Precisamos ampliar esse diálogo”.
Novas iniciativas
Uma nova iniciativa está sendo lançada no site Aconteceu na Academia. São palestras de sucesso feitas por acadêmicos e que receberam muitas buscas posteriores na internet. Foram disponibilizados também para os usuários os conteúdos do arquivo da ABL. “É um pacote muito grande de ferramentas para que a academia não silencie”.
Marco Lucchesi avaliou que a crise sanitária e econômica deverá se estender além do previsto. “Mas o que não podemos fazer neste momento é silenciar. Nós precisamos abrir esse canal de esperança, de diálogo. As atividades dos grandes ideais de Machado de Assis precisam continuar, mas vão continuar da forma possível neste momento, por meio das múltiplas medidas que fazem parte das ferramentas de manter essa janela aberta”.
O presidente da ABL afirmou que depois dos primeiros podcasts em homenagem ao centenário dos três acadêmicos, a ideia é continuar publicando serviços para os usuários do site da academia, como consultas a especialistas sobre ortografia e língua portuguesa, por exemplo.
Janela para o mundo
A ABL entende que o site é uma janela para o mundo que, hoje, se tornou de fato “urgente e necessária”. Antes da pandemia, a instituição destacou a questão da acessibilidade de seus conteúdos para deficientes visuais e promoveu a tradução automática do para mais de 100 línguas. Outras inovações estão em curso. A ABL procura levar para sua página, de forma reduzida, todos os eventos realizados, como apresentações diminutas de músicas de câmara com a Orquestra da Grota, de Niterói, entre outras, e grandes solistas.
As leituras dramatizadas, que antes eram apresentadas a estudantes de colégios que visitavam a academia, passaram a ser disponibilizadas também, incluindo atrizes como Nathalia Timberg, que lê uma página de Machado de Assis, fundador da ABL. Marco Lucchesi convidou também presidentes de academias de todas as partes do mundo para participar da programação da instituição por meio de vídeos ou cartas. “Nós estamos buscando o diálogo internacional”, comentou.
Os acadêmicos da própria ABL foram incentivados a conversar com o público em geral, a partir de pequenos vídeos. A academia abriu uma sessão sobre o coronavírus, porque mesmo antes da medida de isolamento social, já previa que a situação seria grave no país.
Desafios da cultura
Lucchesi pretende manter aberto o espaço da academia, sobretudo no momento atual, em que são grandes os desafios que a cultura enfrenta no mundo.
“Acreditamos que a cultura não é um luxo, não é um adorno, que a cultura é, sim, uma forma de medicação, de prevenção, de saúde mental, de engrandecimento de valores, tudo aquilo que, de algum modo, estava na perspectiva dos fundadores da casa”. Ele afirmou que sem perder a dimensão dos grandes ideais dos fundadores da ABL, é preciso pensar uma forma em que eles tenham expressão maior, com essa nova dinâmica de segurança e informação.
O presidente da academia lembrou a necessidade de se criar, no momento, um novo humanismo mais solidário, com conhecimento mais aberto e disponível, olhando para o outro nas suas diferenças. ”E que possamos, justamente, por causa dessas diferenças, caminhar de mãos dadas pelo mundo. Essa é a questão maior”, acrescentou.