Pobres e migrantes se despedem do ‘Papa dos últimos’

VATICANO, 26 ABR (ANSA) – Por Domenico Palesse – Eles o esperavam na entrada da Basílica de Santa Maria Maggiore, rosas brancas nas mãos e olhos úmidos de quem perde um amigo. Aquele momento era deles, os últimos, os esquecidos, aqueles por quem o papa Francisco tanto lutou durante seu pontificado e que agora devolviam a ele o último abraço antes da eternidade.   

Pobres e marginalizados, migrantes e pessoas transgênero, todos os que encontraram naquele Papa “do fim do mundo” um farol de esperança. “Ele desceu do pedestal para ficar entre nós”, dizia emocionada uma mulher que passara o dia inteiro diante do principal templo mariano de Roma.   

Na multidão, histórias se entrelaçavam como contas de um rosário. Antonino, que já viveu nas ruas, lembrava com orgulho o dia em que o Papa lhe disse em Santa Marta: “Nunca diga que está cansado, Antonino. Ajude os outros até não conseguir mais ficar em pé”.   

Muitos outros participaram da cerimônia fúnebre na Praça São Pedro. Outros tantos acompanharam o funeral pela televisão no Palácio Migliori, residência que o Papa doou aos pobres e que é administrada pela Comunidade de Santo Egídio, a dois passos do Vaticano.   

“30 anos atrás, seria impossível para mim estar aqui”, disse Regina, integrante da comunidade LGBT+ que exibia diante de Santa Maria Maggiore um cartaz com o rosto de Francisco e a inscrição “Santo subito” (“Santo imediatamente”). “A santidade preserva os valores de uma pessoa. E a santidade dele estava em ficar perto dos pobres, contra a guerra e junto às pessoas LGBT+. Então é melhor canonizá-lo logo, o quanto antes”, acrescentou.   

Entre os que vieram se despedir estavam também migrantes e ex-moradores de rua, grupos beneficiados pelos serviços de assistência básica criados por Jorge Bergoglio nas redondezas de São Pedro. Na mesma praça, sentados entre os poderosos da Terra, estavam representantes do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) e da ONG Mediterranea Saving Humans, que resgata vidas no mar, contrariando o poder político na Europa.   

Ainda em São Pedro, o argentino Sergio Sánchez, catador de papel que o recém-eleito Papa levou para a missa de início do pontificado em 2013, colocando-o entre os lugares reservados à família, ocupou um posto privilegiado, observando de cima os 250 mil fiéis que vieram a Roma para honrar o “Papa do povo” em seu funeral. (ANSA).