O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), tem sido pressionado cada vez mais a revelar se será candidato a presidente ou à reeleição ao Palácio dos Bandeirantes em 2026. O chefe do Executivo paulista, porém, mantém o discurso de que apoia Jair Bolsonaro, mesmo com sua inelegibilidade determinada pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral). O ex-presidente ainda se movimenta para tentar aprovar no Congresso uma anistia que lhe permita concorrer no ano que vem.
Tarcísio diz que não fará nenhum movimento para se contrapor a Bolsonaro e esperará uma decisão do ex-presidente, se for necessário, segundo assessores, até o dia 31 de março do próximo ano, quando encerra-se o prazo para a desincompatibilização, caso queira disputar o Palácio do Planalto. Nos bastidores, porém, tem chamado a atenção a presença constante de Tarcísio em eventos e agendas políticas ao lado do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), que teve o seu apoio na campanha à reeleição no ano passado. Nunes quer concorrer ao governo do Estado e, entre outras iniciativas, tem levado ex-prefeitos da Grande São Paulo e do interior para fazer parte de sua equipe.
A participação da dupla em agendas comuns é interpretada por quem acompanha os passos de Tarcísio como um sinal de que ele, mesmo ressaltando a lealdade a Bolsonaro, estaria colocando em prática o seu “plano B”: a disputa pela Presidência da República.
Nesse rumo, na base de apoio do governador são feitos movimentos que excluem sua reeleição em 2026. No sábado, 15, por exemplo, o deputado estadual Gil Diniz (PL) lançou o nome do presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, André do Prado, também do PL, para o o governo do Estado. Como se trata do mesmo grupo político, desse gesto se pode concluir que, se Prado tem esses planos, é porque Tarcísio pode não tentar um novo mandato, hipótese que só faz sentido com o voo presidencial.
Diniz declarou o apoio a Prado, no momento da votação em que ele era reconduzido à presidência da Assembleia. “Hoje voto no deputado André do Prado para a Presidência dessa casa, mas num futuro não muito distante para governador do estado de São Paulo”, afirmou Diniz. André do Prado, em conversas, também não negou o interesse em integrar uma chapa apoiada pelo atual governador.
“Enfraquecimento de Bolsonaro, fortalece Tarcísio”
Tarcísio, no entanto, parece preferir Nunes. Os encontros institucionais ajudam na aproximação. O governador e o prefeito paulistano participaram juntos nesta quinta-feira, 20, na solenidade de Abertura do 87º Encontro do Colégio de Presidentes dos Tribunais Regionais Eleitorais, no Palácio da Justiça, em São Paulo (foto). Recentemente se encontraram, também, no Tribunal de Contas do Município de São Paulo, na entrega do título de cidadã paulistana à mulher do governador, Cristiane Freitas, e em um encontro com prefeitos, no qual Jair Bolsonaro apareceu “de surpresa”.
“Pela força da gravidade, o Tarcísio vai se tornar o candidato do grupo a presidente. Agora, ao que parece, é algo que ele quer. Não é mais algo que ele negava peremptoriamente. Porque se ele negasse antes, ele batia de frente com o Bolsonaro. Agora os movimentos indicam que ele está construindo esse processo”, avalia o cientista político Marco Antonio Carvalho Teixeira, professor e coordenador de mestrado de Gestão e Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo.
A inelegibilidade, a dificuldade para obter votos para sua anistia, e o público aquém do esperado no ato no Rio de Janeiro no último fim de semana, enfraquecem Bolsonaro, avalia o Teixeira. “Até as mudanças na Lei da Ficha Limpa, se ocorrerem, também não beneficiam o ex-presidente.. Ele só teve derrotas nessa semana. E o fracasso do bolsonarismo representa o fortalecimento do Tarcísio. O governador está sentado, só observando e sendo leal a Bolsonaro, sem fazer esforço para isso, a não ser o seu discurso de domingo”, diz o professor.
No ato, Tarcísio não se colocou como presidenciável. No discurso, fez referências a casos de corrupção envolvendo o PT na Operação Lava Jato, disse que “prometeram picanha e não tem nem ovo” e “ninguém aguenta mais a inflação”. Depois, exaltou Bolsonaro, dizendo que ele “levou água para o Nordeste” e criou o Pix. Com esse tipo de gesto, fica mais fácil para o governador conseguir o apoio do ex-presidente, de quem foi ministro da infraestrutura, caso decida entrar na corrida ao Planalto.