PlatôBR: Tarcísio dá mais um passo na estratégia para atrair eleitores de Bolsonaro

O governador de São Paulo recebeu apoio de bolsonaristas ao chamar Alexandre de Moraes de tirano. Ao mesmo tempo, foi alvo de críticas, por exemplo, do ministro Gilmar Mendes, decano do STF

Tarcísio de Freitas em manifestação na Avenida Paulista: primeiro discurso contra Alexandre de Moraes
Tarcísio de Freitas em manifestação na Avenida Paulista Foto: REUTERS/Amanda Perobelli

Ao subir o tom contra o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), atribuindo a ele atos de “tirania”, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), deu mais um passo na conquista da confiança do eleitorado bolsonarista e se colocou, mesmo que sem assumir oficialmente, como pré-candidato à Presidência da República em 2026. A fala do governador no ato bolsonarista na Avenida Paulista neste domingo, 7, teve o efeito de emular a retórica política de Jair Bolsonaro.

Tarcísio elevou o tom ao atacar Moraes. “Por que vocês estão gritando isso? Talvez porque ninguém aguente mais. Ninguém aguenta mais a tirania de um ministro como Moraes. Ninguém aguenta mais o que está acontecendo nesse país”, afirmou Tarcísio do alto de um trio elétrico.

Em 2021, Bolsonaro disse, também em São Paulo e também no feriado da Independência, que não se submeteria a nenhuma decisão do ministro, relator dos processos sobre a tentativa de golpe no Supremo. “Dizer a vocês que qualquer decisão do senhor Alexandre de Moraes, esse presidente não mais cumprirá. A paciência do nosso povo já se esgotou, ele tem tempo ainda de pedir o seu boné e ir cuidar da sua vida. Ele, para nós, não existe mais”, discursou o então presidente da República.

Esse e outros trechos de discursos de Jair Bolsonaro foram incluídos pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet, na peça acusatória que originou a ação penal que está em fase final de julgamento na Primeira Turma do STF – a previsão é de que o veredicto saia na próxima sexta-feira, 12.

Boa recepção

Bolsonaristas conhecidos manifestaram apoio a Tarcísio após o discurso deste domingo. O líder do PL, Sóstenes Cavalcante (RJ), por exemplo, cumprimentou o governador. “Parabéns, governador Tarcísio, o Brasil não aguenta mais a tirania”, escreveu nas redes sociais, ao replicar um vídeo com a fala de Tarcísio. Cavalcante tem liderado a pressão sobre o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), para que ele paute a anistia para Bolsonaro e os demais acusados de participação na trama golpista.

O discurso foi mais um passo na estratégia que ele começou a adotar mais enfaticamente na semana passada, quando, com a mesma intenção de se alinhar aos bolsonaristas, desembarcou em Brasília para defender a anistia.

No ato, Tarcísio estava ao lado do pastor Silas Malafaia. Ele fez um apelo para que Moraes devolva o passaporte do líder religioso, que foi alvo de uma ação de busca e apreensão determinada por ministro. Apesar de não admitir publicamente Bolsonaro fora da campanha no ano que vem, Malafaia também elogiou Tarcísio por defender a anistia. “Já fiz críticas públicas e no privado, ele sabe disso. Mas agora, esse cara está sendo um leão em favor da anistia”, disse o pastor, que tem um ascendência forte sobre o eleitorado de direita.

Críticas

Apesar do apoio de bolsonaristas, o governador recebeu repostas quase que imediatas, condenando seu posicionamento. Do STF, inclusive. O ministro Gilmar Mendes, decano da corte, disse que não há uma “ditadura da toga” e que o que Brasil não aguenta mais são as “sucessivas tentativas de golpe”.

“O que o Brasil realmente não aguenta mais são as sucessivas tentativas de golpe que, ao longo de sua história, ameaçaram a democracia e a liberdade do povo. É fundamental que se reafirme: crimes contra o Estado Democrático de Direito são insuscetíveis de perdão! Cabe às instituições puni-los com rigor e garantir que jamais se repitam”, escreveu o ministro nas redes.