Discreto e ponderado, o advogado Dario Durigan é considerado aquele tipo de pessoa avessa aos holofotes e que só aparece quando é extremamente necessário. Prefere ficar nos bastidores. Os colegas que trabalharam com o atual secretário-executivo do Ministério da Fazenda ressaltam, ainda, a postura firme na defesa das suas posições, “sempre embasada por muitos dados”, e a “flexibilidade” nas negociações. “Ele é um gentleman e consegue estabelecer empatia nas suas interlocuções”, destaca um colega de governo. Ele também é apontado como uma liderança presente, “na medida”, nos grupos de whatsApp do ministério.
Com esse perfil, Durigan parece ser a pessoa certa, no cargo correto, em meio à crise instalada entre o chefe dele, o ministro Fernando Haddad (Fazenda), e o Congresso Nacional, em especial, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB). Nesta quarta-feira, 2, enquanto Haddad, em viagem oficial a Buenos Aires, voltava a alfinetar Motta dizendo que “quem saiu da mesa de negociação não foi o Executivo”, e que o governo ainda não foi reconvocado para retomar as conversas sobre as contas públicas, Durigan circulava pelo Congresso Nacional discutindo alternativas para ajudar a fechar o orçamento do governo federal.
Convidado para uma reunião fechada com líderes na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara, o secretário-executivo debateu a melhor forma de encaminhar os cortes em benefícios fiscais. Segundo o próprio ministro da Fazenda, o governo precisa reduzir R$ 15 bilhões dessa conta para o orçamento de 2026. Isso, porém, não elimina a necessidade de obter mais receitas com o aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), que está no centro do atrito entre Executivo e Legislativo. A palavra final será dada pelo STF (Supremo Tribunal Federal).
Durigan chegou tenso á reunião, na avaliação do deputado Mauro Benevides Filho (PDT-CE). “Mas saiu tranquilo. Não houve nenhuma discussão acirrada, mas acho ele meio assim… como se o processo deles (Fazenda) não estivesse concluído”, disse o parlamentar. “O secretário falou de uma forma verdadeira e transparente”, afirma o deputado Sidney Leite (PSD-AM), que participou do encontro, ressaltando que ele não se esquivou nem mesmo quando foi cobrado por cortes de gastos por alguns parlamentares. “Ele tratou de temas que, inclusive, o Congresso é refratário e perguntou se eles seriam votados”, complementou, citando a desvinculação das verbas para educação do crescimento das receitas do governo federal.
Sobre a animosidade contra o ministro da Fazenda que tomou conta dos corredores do Congresso, com críticas à postura considerada arrogante de Haddad, o deputado argumenta que “são pessoas diferentes” e que “Haddad é professor”. E ainda ponderou sobre os ataques ao dizer que, durante as negociações da reforma tributária, o ministro demonstrou muita habilidade política.
Substituto de Galípolo
Há cerca de dois anos no cargo de secretário-executivo da Fazenda, o segundo na hierarquia do ministério, Dario Durigan é formado em Direito pela USP (Universidade de São Paulo) com mestrado na UnB (Universidade de Brasília). Antes de assumir a secretaria, em substituição a Gabriel Galípolo, atual presidente do Banco Central, ele já havia passado pelo governo e, inclusive, trabalhado como assessor especial de Haddad na Prefeitura de São Paulo.
Entre o estágio em um escritório de advocacia, em 2005, ao posto que é o segundo mais importante na pasta, onde chegou em 2023, Durigan desenvolveu habilidades de negociação em cada cargo que ocupou. Seja na supervisão dos trabalhos do Conselho Superior da AGU (Advocacia Geral da União), nas reuniões com parlamentares como subchefe de assuntos jurídicos da Casa Civil, defendendo planos de investimentos da empresa São Paulo Urbanismo ou na renegociação da dívida da Prefeitura de São Paulo com o governo federal.
Segundo pessoas próximas, foi na liderança da área de políticas públicas do WhatsApp, empresa que pertence à Meta, que ele teria “criado casca”, numa expressão que significa tornar-se mais resistente. A função que ele assumiu em 2020 havia sido criada pouco tempo antes e era estratégica para o WhatsApp no combate às fake news após as eleições de 2018. Uma das principais plataformas de comunicação dos brasileiros, o WhatsApp estava no meio da disseminação de notícias falsas. Durigan interagiu diretamente com o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) para evitar que os problemas de desinformação se repetissem nas eleições de 2020 e de 2022.
À frente da secretaria-executiva, há quem critique a pouca experiência dele para lidar com a nata da política nacional. “Isso ganha um peso maior diante de um discurso fraco da equipe econômica”, avalia um ex-integrante do governo. No entanto, ele reconhece em Durigan uma característica importante neste momento: “É muito fiel ao ministro, e essa fidelidade se mantém, não interessam as ideias do governo”. Para o deputado Mauro Benevides Filho foi exatamente esse papel que o secretário desempenhou na Câmara esta semana. “Não diria que foi bom nem ruim, mas ele cumpriu as orientações do ministro Haddad”.