PlatôBR: PT quer Haddad disponível (e pronto) para se candidatar em 2026

Ministro vinha dizendo que não será candidato a nada. O partido, porém, quer mantê-lo como opção.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad Foto: Diogo Zacarias/MF

O ministro Fernando Haddad (Fazenda) não tem se mostrado muito animado para disputar eleições no ano que vem. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a cúpula do PT sabem disso, mas resistem à ideia de não tê-lo como candidato a algum cargo. Especialmente por entenderem que ele pode ser um ativo importante na disputa pelos votos de São Paulo, um front que será essencial para o partido no confronto direto com a oposição bolsonarista.

A ideia de ter Haddad no páreo é defendida por Lula e pelo presidente eleito do PT, Edinho Silva. Ambos entendem que o ministro tem uma missão – e que precisa estar pronto para desempenhá-la. Nomes históricos do PT, como o do ex-ministro José Dirceu, também defendem a ideia como parte da estratégia de compor uma chapa forte em São Paulo.

Entre as possibilidades aventadas está a de Haddad sair candidato ao governo. Outra passa pela disputa de uma cadeira no Senado. Há, ainda, em um cenário hipotético de Lula não ser candidato à reeleição, a condição quase natural de o ministro ser lançado ao Planalto. Ele seria o plano B imediato do PT.

As chapas ainda estão longe de serem definidas, mas alguns dilemas já estão colocados. Especialmente porque, na montagem, será preciso alinhar as posições com aliados como o PSB, que planeja lançar o ministro Márcio França (Empreendedorismo) ao Palácio dos Bandeirantes. Nesse caso, Haddad poderia integrar a chapa como candidato ao Senado. O próprio França já pediu o apoio de Lula para a empreitada de sair candidato ao governo, mas o martelo ainda não está batido.

Do ano passado para cá, Haddad se manifestou várias vezes sobre ser ou não candidato em 2026. Chegou a declarar textualmente que não disputaria a eleição. Ao presidente, ele manifestou o desejo de ficar no cargo de ministro até o final do atual mandato. Mais recentemente, sinalizou que poderia deixar o posto para trabalhar desde já como coordenador da campanha do petista à reeleição.

Só que, a despeito do discurso feito em público, essa não é uma questão fechada. Haddad se mantém disponível para cumprir a missão que Lula considerar mais adequada para ele – e mais estratégia para o projeto do PT.

Resistências dissipadas
Enquanto não vem a definição das alianças ou mesmo uma decisão clara quanto ao futuro político de Haddad, o PT tem trabalhado para integrar mais o ministro nas discussões sobre as premissas econômicas a serem defendidas pelo partido.

O pensamento de Haddad, que tem caráter um pouco mais fiscalista que as políticas historicamente defendidas pelo partido, sempre enfrentou resistências dentro da legenda. O arcabouço fiscal defendido por ele e a meta de déficit zero já foram alvo de críticas pesadas, inclusive feitas de forma pública correligionários relevantes.

A ministra Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais), antes de deixar o comando do PT para se integrar à equipe de Lula no Planalto, não poupava o ministro de críticas nas redes sociais. Hoje, essa situação não mais acontece. Ao contrário. Há um processo de apaziguamento, que leva em conta também o fator eleitoral e as disputas que se aproximam.

Tanto é assim que Haddad será um dos poucos integrantes do primeiro escalão de Lula a discursar no encontro que o partido fará no início de agosto para dar posse à direção recém-eleita. Nesse mesmo evento serão submetidas as diretrizes que o grupo vencedor das últimas eleições petistas – a corrente CNB (Construindo um Novo Brasil), de Lula, com Edinho Silva à frente – pretende implementar.

Tom político
Nas últimas semanas, Haddad também tem adotado um tom mais político em suas declarações públicas, com críticas duras à oposição, e ao bolsonarismo em particular. O gancho é o tarifaço de 50% anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para as importações de produtos brasileiros a partir do dia 1º de agosto – um dos motivos apresentados para a medida é a investigação levada a cabo pelas autoridades brasileiras que deve levar Jair Bolsonaro à prisão nos próximos meses.

Alinhado ao discurso de Lula, Haddad tem contribuído para inflar a polarização entre o PT e o bolsonarismo, antecipando a toada que deve prevalecer na disputa eleitoral do ano que vem. Neste domingo, 27, em entrevista na Escócia ao lado de Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, Trump confirmou que as sobretaxas prometidas entrarão em vigor na data anunciada por ele. “O 1º de agosto é para todos”, afirmou.