Deputados do PT querem que o candidato à presidência da Câmara Hugo Motta, líder do Republicanos, dê uma garantia para que seja selado o seu “namoro” com o partido.

A bancada do PT na Câmara cogita apoiar Motta, mas teme que, caso eleito em fevereiro de 2025, ele passe a “fazer o jogo” do ex-presidente Jair Bolsonaro e de seus satélites.

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Na manhã desta segunda-feira 21, ao lado de Lira, em uma conferência do setor de agronegócio em São Paulo, Motta disse estar conversando com o PT sobre temas como, por exemplo, governabilidade.

Na disputa pela presidência da Câmara, neste momento Motta concorre com Antonio Brito, líder do PSD, e com Elmar Nascimento, líder do União Brasil. Representantes do PT e do governo têm conversado com os três candidatos.

O líder do Republicanos disse ter um desejo até então considerado impensável e inimaginável: unir todas as correntes políticas, da extrema direita à extrema esquerda, em torno de seu nome.

“Temos confiança de que construiremos essa candidatura de consenso da extrema direita à extrema esquerda para que tenhamos a Casa funcionando bem, os partidos respeitados e que cada um possa defender a pauta que considera importante para o país”, afirmou.

Motta tem apoio tanto de governistas em geral, e petistas em particular, como também de bolsonaristas. Sua dificuldade está justamente aí, admite um representante de seu partido ouvido pelo PlatôBR. Ele seria o favorito para vencer a disputa hoje, mas sua vitória dependeria de conseguir conciliar o apoio de parlamentares da base do governo, de um lado, e de bolsonaristas do outro. Seu desafio é administrar essa dualidade.

Se o governo e a bancada do PT entenderem que ele, eventualmente eleito em 2025, irá atuar depois em favor de Bolsonaro e das causas do grupo que gira em torno do ex-presidente, esse apoio será retirado. O mesmo ocorrerá do lado contrário, se Bolsonaro concluir que, no comando da Câmara, Hugo Motta estará alinhado ao PT e ao governo Lula.

O PT está longe de ter maioria, mas, com seus 68 deputados, será o fiel da balança para definir a sucessão de Arthur Lira na votação marcada para a primeira semana de fevereiro de 2025.

Pesará também na escolha a votação do Orçamento de 2025 na Câmara, em dezembro, e os resultados da eleição municipal no segundo turno. Se Lira não encaminhar Orçamento conforme o governo deseja, os governistas podem não dar o voto a Motta.

Há uma expectativa também em torno do desempenho de candidatos apoiados pelo ex-presidente Jair Bolsonaro no segundo turno. Bolsonaro estará fortalecido caso candidatos que tenham o seu apoio vençam em cidades como Fortaleza (com André Fernandes, do PL, contra Evandro Leitão, do PT), Goiânia (com Fred Rodrigues, do PL, contra Sandro Mabel, União Brasil), Curitiba (com Cristina Graeml, do PMB, contra Eduardo Pimentel, do PSD) e, ainda, na cidade paulista de Santos (com Rosana Valle, do PL, contra com Rogério Santos, do Republicanos).

Indefinição

A disputa ainda está indefinida. Até fevereiro, pode surgir até mesmo um novo nome, avaliam políticos ouvidos pelo PlatôBR. O Palácio do Planalto tem agido com comedimento para evitar desgastes, mas deseja uma opção que seja “palatável”.

Apesar de já ter sinalizado o apoio a Motta, Arthur Lira declarou nesta segunda que “sucessão da Câmara a gente fala na Câmara” e que se pronunciará sobre o assunto no momento adequado.

“Há um ano a imprensa especulou que meu candidato seria Elmar Nascimento. Ele é meu amigo pessoal, e eu nunca falei qual era o candidato porque tenho todos na mais alta conta”, afirmou.

Contra a e a favor

Na avaliação de observadores políticos, o que pesa hoje a favor de Hugo Motta é justamente ter o apoio de Lira, além de ser considerado um político habilidoso.

Antonio Brito, por sua vez, tem em seu benefício o fato de ser do PSD, que elegeu o maior número de prefeitos no Brasil no primeiro turno das eleições presidenciais, 882. É um ativo que tem peso numa eleição presidencial.

Já Elmar Nascimento, que fez um acordo com Brito para que aquele que estiver em vantagem na reta final do processo receba o apoio do outro, pode ser beneficiado pelo apoio de parlamentares que não querem o fortalecimento nem o aumento de poder de Gilberto Kassab, presidente nacional do PSD, e que não confiam em Lira.

Nos bastidores, Elmar diz ter o apoio de deputados do PT, como Zeca Dirceu, filho do ex-ministro e ex-presidente do partido José Dirceu.

A lista de fatores que pesam contra os candidatos é proporcional aos pontos favoráveis. Brito tem o fato de ser apoiado por Kassab (bolsonaristas e parte do União Brasil o rejeitam). Elmar é visto como antipático por uma parcela dos colegas, além de nunca ter sido um parlamentar de ponta. Contra Motta há o receio dos governistas de que ele, após eleito, siga os passos de Lira e não seja um presidente da Câmara confiável.

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