PlatôBR: PSOL esquece divisão interna e se une para tentar salvar Glauber Braga

Deputado do PSOL que teve pedido de cassação aprovado no Conselho de Ética da Câmara e faz greve de fome também tem recebido apoio de ministros do governo Lula

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A esquerda não se une nem na cadeia. Essa era uma máxima utilizada por militantes de esquerda, durante o regime militar. Os próprios militantes ironizavam assim as dezenas de partidos e correntes políticas que dividiam – e dividem até hoje – o campo da esquerda brasileira.

Integrantes de tendências diversas do PSOL, que já é uma dissidência do PT, travavam um duro embate interno desde o início do ano. Essa disputa resultou na demissão do economista David Deccache da assessoria da liderança do partido na Câmara dos Deputados, por causa de críticas feitas por ele à política econômica do governo Lula. De um lado nesse embate estava o deputado e ex-candidato à presidência da República Guilherme Boulos (SP), com posições pró-governo Lula; do outro, parlamentares mais à esquerda, caso dos deputados Glauber Braga (RJ) e Sâmia Bomfim (SP), críticos da linha adotada pelo ministro Fernando Haddad (Fazenda).

Agora, ao menos momentaneamente, reina a paz internamente no PSOL. O partido e suas várias correntes se uniram para tentar salvar o mandato de Glauber Braga.

Na quarta-feira, 9, o Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara decidiu, por 13 votos a 5, pedir a cassação do deputado, por ele ter retirado à força da Câmara, com um pontapé, um militante do MBL (Movimento Brasil Livre) que teria feito provocações a ele.

Glauber está em greve de fome desde o dia 9, em protesto contra a decisão do Conselho de Ética. O deputado tem dormido em uma das salas onde se reúnem as comissões da Casa. Tem ingerido apenas água, isotônico e soro fisiológico, e já começa a ter sinais de fraqueza e abatimento.

Parlamentares de correntes adversárias de Glauber no PSOL têm se destacado como alguns dos seus maiores defensores, como o próprio Boulos e o pastor e deputado do Rio Henrique Vieira (foto). O partido se divide hoje em correntes reunidas em dois grandes agrupamentos: o “PSOL de todas as lutas”, majoritário na direção, que apoia o governo Lula, e o “Oposição de Esquerda”, formados por grupos que criticam a política econômica de Fernando Haddad.

Boulos defendeu Braga na reunião do Conselho de Ética. “Sabe o que tem aqui? Perseguição política. Deveriam ter vergonha aqueles que estão sendo cúmplices dessa perseguição política. Vocês podem inaugurar hoje a cassação por ideologia e por posicionamento político”, afirmou Boulos, que enumerou casos de outros parlamentares que teriam cometido atos mais graves, em sua avaliação, como o da deputada Carla Zambelli (PL-SP), que pode ser condenada no STF por uso irregular de arma e perseguição armada a um jornalista nas ruas de São Paulo, mas não teve o caso analisado no Conselho.

“Glauber está sendo perseguido por ter reagido a uma provocação deliberada (de alguém) que ofendeu a honra de sua mãe, poucos dias antes de sua partida”, defendeu o deputado Henrique Vieira.

O PT, em peso, e integrantes do governo também saíram em defesa de Glauber. Desde a sexta-feira, 11, ele recebeu visita dos ministros Márcio Macedo (Secretaria-Geral da Presidência); Macaé Evaristo (Direitos Humanos); Gleisi Hoffmann (Secretaria de Relações Institucionais); Sidônio Palmeira (Secom), e Cida Gonçalves (Mulheres). O  líder do PT na Câmara, Lindberg Farias (RJ), e vários outros deputados petistas também estiveram com o parlamentar em greve de fome.

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