PlatôBR: Os papéis inversos de Lindbergh Farias e José Guimarães no Congresso

O Planalto encara a diferença de estilo entre os líderes do governo e do PT como uma vantagem na relação com o Congresso. E admite que os dois, cada um do seu modo, se complementam

Congresso

Os embates entre o governo e a oposição sobre a crise na segurança pública evidenciaram, na última semana, a diferença de personalidade entre os líderes do PT, Lindbergh Farias (RJ), e do governo, José Guimarães (PT-CE), bem como as respectivas atuações no Congresso.

Depois de levar susto com a decisão do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), de indicar o deputado Guilherme Derrite (PP-SP) para relatar o PL Antifacção, os dois líderes governistas exibiram os estilos opostos na estratégia que veio a seguir, ainda que com um mesmo objetivo: impedir que a base bolsonarista no Congresso se apropriasse da pauta.

Enquanto Lindbergh vociferava imediatamente após o anúncio da escolha e passava a mobilizar gente do governo e as redes sociais apontando o que chamou de “furto” do projeto do governo, Guimarães fazia o silêncio costumeiro. Em sintonia com o Palácio do Planalto, ele só passou a tratar do assunto com Motta depois do final de semana, passada a comoção inicial.

É evidente que, com um no papel de líder do governo e outro no papel de líder do partido, as tarefas de um e de outro são distintas, mas é inegável que a atuação da dupla dá um caráter novo para a relação entre o Planalto e o Congresso neste terceiro mandato de Lula.

Se nos primeiros dois anos, para enfrentar a dura negociação com então presidente da Casa, deputado Arthur Lira (PP-AL), Guimarães tinha à frente da bancada do PT os deputados Odair Cunha (MG) e Zeca Dirceu (PR), petistas com perfil tão negociador como o dele, agora, na lida com Motta, tem em Lindbergh um líder afeito a embates, digamos, mais acalorados.

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Briga versus comedimento

A reunião de líderes da última terça-feira, 11, ilustra bem essa mudança. Irritado com o Lindbergh, que o atacou nas redes, Motta levantou a voz. Mirando o deputado, bateu a mão na mesa e disse que “bravatas” não iriam impedi-lo de exercer a prerrogativa de escolher o relator.

Mais tarde, Lindbergh confirmou a discussão e disse que “respondeu no mesmo tom”, acusando Motta de politizar o debate ao escolher o então secretário do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), para desfigurar a proposta.

Guimarães saiu da mesma reunião apostando no tom apaziguador, se dizendo “otimista” com a possibilidade de um entendimento e comparando a situação com a unanimidade conseguida sobre o projeto que alterou a cobrança do IR (imposto de renda). Nesse caso, porém, a negociação foi feita menos com Motta e mais com Arthur Lira, relator da proposta.

O líder do governo se disse ciente de seu papel primordial: o de dirimir as rusgas. “Eu sempre trabalhei aqui nesta casa. O meu papel como líder do governo é buscar o entendimento nessas horas de tensionamento. Tem o relatório, tem o relator escolhido legitimamente pelo presidente da casa e nós vamos negociar”, disse. “Acredito e estou muito empenhado desde as 7 horas da manhã com o presidente Hugo Motta na busca de um entendimento”, declarou Guimarães.

Efeito amortecedor

Muito do trabalho de Guimarães tem sido justamente no sentido de amortecer os atritos entre Motta e Lindbergh. Outro ponto que gerou confusão na relação do líder do PT com o presidente da Câmara se deu quando informações sobre as propostas de blindagem de parlamentares, discutidas em uma reunião de líderes, foram enviadas a ministros do STF (Supremo Tribunal Federal).

Motta atribuiu a Lindbergh a responsabilidade pelo vazamento. A animosidade ficou explicita no plenário. Lindbergh ameaçou acionar o STF contra a adoção do voto secreto, ponto também aprovado no contexto da blindagem. Motta respondeu: “É um direito de Vossa Excelência ir ao Supremo, como faz quase diariamente”.

No Planalto, o contraste de estilos é visto com bons olhos. Combinada ou não, interlocutores do presidente Lula acreditam que as diferenças de atuação da dupla vêm funcionando no geral. “Eles são complementares”, diz um integrante do governo, sob reservado.

Apesar da briga com Motta, a avaliação é de que a postura de Lindbergh “foi fundamental” na última semana para levantar e contestar “pontos inegociáveis” nas quatro versões do texto apresentadas por Guilherme Derrite. Da mesma forma, o papel de Guimarães também foi aprovado. “Ele é negociador, cumpridor de tarefas, mas, se precisar, sabe partir para cima.”