PlatôBR: Os ensaios de Lula e a dança dos aliados na ‘folia da reforma’

O presidente deu os primeiros passos para as mexidas na equipe, mas ainda precisa amarrar acordos para completar o bloco do governo

Arte: Daniel Medeiros/PlatôBR
Foto: Arte: Daniel Medeiros/PlatôBR

Na véspera do Carnaval, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva resolveu definir a fantasia da deputada Gleisi Hoffmann (PT-PR), colocando-a na (SRI) Secretaria de Relações Institucionais e atravessando o samba do Centrão, que sonhava em continuar ditando o ritmo da execução orçamentária do país. A roupa de Gleisi seria outra, a de chefe da Secretaria-Geral, mas Lula precisou agilizar o anúncio para não alongar a temporada com a articulação do Planalto acéfala.

O pré-Carnaval já tinha sido agitado e cheio de constrangimentos, a ponto de o presidente demitir a ministra da Saúde, Nísia Trindade, bem no dia em que ela fazia uma grande entrega da pasta. Nísia saiu para dar lugar a Alexandre Padilha, e Lula garantiu para o PT a pasta com maior orçamento da Esplanada e que precisava brilhar mais, sem a discrição e a sobriedade de Nísia. O Centrão queria a pasta.

Confira, a seguir, os demais lances da folia da reforma ministerial.

O bloco do “lenga-lenga”
Lula ainda tem que sair da concentração e atravessar uma avenida inteira de trocas. O que sairá da cabeça dele talvez só seja entendido ao final, na dispersão. Gleisi ia para o lugar de Márcio Macêdo no Planalto, não foi, mas ainda permanece a ideia de que Macêdo seria o nome de Lula para assumir o Ibama (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis).

A troca agora soaria como retaliação ao trabalho do presidente do órgão, Rodrigo Agostinho (PSB-SP), que é da ala dos verdes, liderada pela ministra do Meio Ambiente, Marina Silva (Rede-SP). Os dois não concordam com a intenção da Petrobras de prospectar petróleo na Bacia da  Foz do Rio Amazonas. Na quinta, o vazamento de um relatório de técnicos do órgão recomendando a rejeição do projeto da estatal aumentou a pressão sobre Marina e Agostinho. Lula já disse ser inadmissível o “lenga-lenga” do Ibama.

Nessa falta de cadência, o entorno do presidente tem se dedicado a alegorias sobre a reforma, reposicionando atores políticos. Uma delas é a de que Lula passe para a deputada Tabata Amaral (PSB-SP) a pasta de Ciência e Tecnologia, até agora com Luciana Santos (PCdoB-PE). Com isso, seria aberta uma vaga para Agostinho voltar para a Câmara, já que ele é suplente de Tabata.

O passo de Pacheco
A aposta é de que a posição que Rodrigo Pacheco (PSD-MG) assumirá no governo só seja definida depois das Cinzas e das férias que ele resolveu tirar assim que deixou a presidência do Senado. Lula prometeu esperar, mas com a noção de que o ministério precisa servir para alguma coisa. Nesse caso, o petista quer de Pacheco o compromisso de que ele vai se candidatar e, claro, montar um palanque forte para a chapa presidencial governista em Minas Gerais em 2026. Mineiro, Pacheco ainda avalia, desconfiado.

Samba atravessado
Lula está desconfiado em relação ao partido de Pacheco, o PSD. Ciente da má fase do petista no quesito popularidade, o presidente da legenda, Gilberto Kassab, volta e meia faz críticas ao governo. Além disso, o PSD reclama de ainda não ter sido chamado para conversar, um descompasso que pode comprometer a harmonia da chamada governabilidade. O PSD tem três ministros: Carlos Fávaro, na Agricultura, Alexandre Silveira, na pasta de Minas e Energia, e André de Paula, na Pesca. Silveira e Fávaro são senadores e André de Paula é deputado. A bancada da Câmara reclama dizendo que “a Pesca é o que o peixe faz” – ou seja, nada!

Lira, não vou negar
O ex-presidente da Câmara, um dos chefões do PP e do Centrão, viajou para Paris no feriado sem saber o que caberá a ela no desfile da reforma. Lira tem dito que só é convidado ou desconvidado pela imprensa. Sua fantasia, porém, pode figurar em outro bloco. Se não for ministro, ou não indicar ninguém, pode virar presidente de uma federação, com potencial de dar trabalho ao governo no Congresso.

Ei, você aí!
No bloco do PT, ainda tem ministro que não sabe se vai sobreviver à reforma. Um deles é o do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, que tem mantém relação difícil com movimentos sociais. Quando Gleisi Hoffmann foi chamada para o governo, ela mirava o Ministério do Desenvolvimento Social, de Wellington Dias, que toca o Bolsa Família, programa que é a cara do PT. Lula, no entanto, não aceitou a proposta. Não podia mandar Wellington para uma posição considerada menos importante, no Senado. O ministro, no entanto, acha que vai ficar.

A folia da reforma não tem data para acabar.

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