PlatôBR: O que será de Haddad com Gleisi na articulação política do Planalto?

Anúncio de Glaisi Hoffmann, crítica da política econômica, para o comando da articulação política do Planalto provoca dúvidas no mercado financeiro sobre a força do ministro da Fazenda no governo

Marcelo Camargo/Agência Brasil
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em Brasília Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

O mercado financeiro travava uma queda de braço para definir o valor no último dia do mês da Ptax, a taxa de câmbio que serve de referência para negociação de vários contratos financeiros, quando o presidente Lula definiu o rumo do jogo. A nomeação de Gleisi Hoffmann, ainda presidente do PT, para comandar a articulação política como ministra da Secretaria de Relações Institucionais reforçou a alta de 1,5% do dólar nesta sexta-feira, 28, fazendo vitoriosos os que estavam com posições no mercado apostando na desvalorização do real.

Enquanto as possibilidades de perdas e de ganhos pautavam as conversas nas mesas de operação no mercado, nos departamentos de economia as contas giravam em torno de uma dúvida: e agora, Haddad? Era uma referência à situação do ministro Fernando Haddad (Fazenda) diante da nova configuração da articulação política ao Planalto. Crítica da política fiscal e das medidas de corte de gastos do ministro, a avaliação no mercado é a de que Gleisi, agora, ampliará seu poder de influência e reforçará opiniões contrárias à da equipe de Haddad que já são defendidas pelo ministro Rui Costa (Casa Civil).

“Dançou”, reagiu um interlocutor de destaque no mercado financeiro. “A situação dele (Haddad) se assemelha à de Paulo Guedes no início de 2020, quando chegou-se a cogitar a saída dele do ministério”, avalia, em referência ao ex-ministro da Economia do governo Bolsonaro. “Ficou no cargo, na época, porque não tinha ninguém mais.”

“Haddad está gradativamente se enfraquecendo desde o final de 2024, quando as medidas fiscais foram mal empacotadas, apresentadas e absorvidas”, avalia o diretor de uma grande consultoria econômica. É fato, porém, que apesar do desgaste recente, o ministro, petista de carteirinha, tem acesso ao presidente Lula e poder de convencimento sobre ele. O momento e a estratégia política diante do contexto atual, em que o governo perde popularidade e cresce a avaliação negativa a cada semana, porém, podem sugerir ações em direção oposta ao que prega o ministro.

As críticas de Gleisi à condução da política fiscal, também, não são novidade, assim como a proximidade entre a futura ministra e Lula. O que isola Haddad do resto do governo é que ele, até por dever do ofício, é o principal interlocutor do governo junto ao mercado. A expectativa, nesse caso, é que Haddad consiga ouvir e levar para dentro do governo as preocupações e avaliações que influenciam as previsões em relação ao futuro da economia brasileira.

Muito mais do que opiniões apenas, as expectativas influenciam o preço dos ativos e posições de investidores que impactam na vida dos brasileiros. Além do câmbio, a inflação é um exemplo fácil de mensurar o custo para a economia quando há dificuldade no mercado em entender os rumos que o país vai tomar, sobretudo na condução das contas públicas. A piora nas expectativas dificulta o trabalho do Banco Central de reduzir a inflação que, hoje, flerta mais com o teto da meta de 4,5% do que com o centro, de 3%. E, se não conseguir gerenciar expectativas, os diretores do BC precisam subir os juros que, por sua vez, atuam para reduzir o ritmo de crescimento, geração de emprego e renda. Com isso, um isolamento do ministro só traria mais prejuízo para o próprio presidente e deixa o BC com a missão de controlar, sozinho, os preços que tanto têm penalizado o governo nas pesquisas de opinião.

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