PlatôBR: O peso dos africanos no conclave que vai eleger o sucessor de Francisco

Igreja Católica cresceu 3,31% na África entre 2022 e 2023. O continente teve o peso aumentado no colegiado, mas cardeais cotados são tidos como conservadores, e a Cúria Romana tende a preferir um perfil moderado

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Há uma avaliação predominante no momento entre líderes católicos de que o próximo papa deverá ser um moderado. Manifestações de especialistas indicam também que o papa a ser escolhido no próximo conclave pode vir da África ou da Ásia. Isso porque Francisco, responsável pela nomeação de 80% dos cardeais com direito a voto no conclave (os que têm menos de 80 anos) abriu a Igreja Católica para as chamadas “periferias do mundo”, nomeando representantes da África e da Ásia, ampliando assim o peso dos dois continentes no próximo conclave.

A África é também o continente onde a Igreja Católica mais cresce atualmente, com um aumento de 3,31% do número de fieis entre 2022 e 2023, segundo a agência de notícias oficial do Vaticano. Representam agora 20% dos católicos no mundo.

“Ninguém deveria se surpreender se fosse escolhido um cardeal africano para ser papa, ou um cardeal asiático ou cardeal italiano. Está nas possibilidades. Se isso acontecer, não significará que a igreja voltou-se só para a África, a Ásia, a América ou a Europa”, diz o arcebispo de São Paulo Odilo Scherer, um dos cardeais cotados para ser eleito papa no conclave que escolheu Francisco, em 2013.

O desejo de contemplar a África, portanto, pode ir na linha contrária de lideranças católicas importantes que defendem a eleição de um papa com perfil moderado. Os dois cardeais africanos citados em várias listas de papáveis com eventuais chances de ser eleito são vistos como conservadores: Peter Turkson (foto), 76 anos, arcebispo emérito de Costa do Cabo, em Gana, e Fridolin Ambogo Besungu, 65 anos, arcebispo de Kinshasa, na República Popular do Congo.

Os dois cardeais são considerados sensíveis aos temas sociais por conhecerem e entenderem a realidade africana, mas são tidos como conservadores culturalmente. Besungu, por exemplo, rejeitou orientação de Francisco para seguir decreto determinado que a Igreja deve abençoar casais homossexuais.

“Há uma dificuldade para religiosos africanos entenderem e aceitarem a união LGBTQIA+. Os africanos são, no geral, conservadores. Há questões culturais que marcam muito a Igreja da África”, diz o teólogo Manoel Godoy, professor de Teologia da Faculdade Jesuíta de Belo Horizonte. “Creio que nós não conseguimos entender com profundidade a igreja católica na África. Há países africanos que têm regime tribal, onde a hierarquia segue o sistema de casta. Outro fenômeno é a endogamia (casamento dentro da tribo), favorecendo hierarquias muito fechadas. Até onde a Igreja Católica consegue inculturar-se verdadeiramente na África? Para os nossos padrões, a igreja é conservadora”, afirma Godoy. No jargão religioso, inculturar-se significa adaptar a prática da fé ao contexto local)

Outro teólogo, Fábio Py, professor do programa de pós-graduação em Sociologia Política do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj), vai na mesma linha. “Os ventos que vêm da África, como também dos Estados Unidos e da Itália, trazem elementos muito conservadores. Eles têm dificuldades com grupos LFGBTQI+. A tendência hoje é mais por uma linha que não cause muitos problemas. E que haja mais abertura para a sociedade, o diálogo, como propôs Francisco”, diz Py.

Por outro lado, o teólogo do Iuperj destaca que os dois cardeais africanos buscam o diálogo. “Ambos se destacam por serem conservadores em termos de teologia, mas têm uma prática pastoral. Essa é uma característica e é também um pouco o que diferenciava o Francisco”, avalia.

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