PlatôBR: O alerta de tribunais para o ‘voto de cabresto’ moderno e uso de IA em 2026

No compasso de Fachin, STF, TST e TSE traçam ações conjuntas para coibir o "assédio eleitoral" no emprego e a "proliferação" de vídeos falsos com tecnologia de inteligência artificial nas campanhas do ano que vem

Marcelo Camargo/Agência Brasil
No cargo de presidente do TSE, o Edson Fachin e sua equipe sentiram o aumento do uso de novas tecnologias nas práticas ilegais Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Durante a Primeira República (1889 a 1930), o coronelismo e as oligarquias agrárias, dos barões da política do café com leite, controlavam o Estado com fraudes nos processos representativos de poder, como eleições, escolha de governantes e de postos chaves nas estruturas de governo. O “voto de cabresto” era a prática comum desse período “clientelista”, que permitia aos coronéis e aos donos de terra manipular os votos e as políticas públicas.

+ PlatôBR: Em reação, governo vai endurecer discurso contra Congresso e ‘ricaços’

Passados 134 anos, pode até parecer estranho e absurdo dizer que ainda existe voto de cabresto no Brasil. Mas existe. Essa é uma realidade cada vez mais presente nos tribunais, em uma configuração distinta e adaptada aos novos tempos e regras, de poder e de trabalho.

O assédio eleitoral no trabalho, com contratados pressionados por patrões para votar conforme sua orientação, é um dos problemas que levaram os recém empossados presidentes do Supremo Tribunal Federal e do Tribunal Superior do Trabalho, os ministros Edson Fachin e Vieira de Mello Filho, a unirem forças com a presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ministra Cármen Lúcia, no enfrentamento aos crimes contra a democracia.

Na expressão de Fachin, o país vai viver “tempos ásperos” nas eleições presidenciais de 2026. Com Lula presidente e Jair Bolsonaro condenado e preso – em regime domiciliar ou fechado -, a primeira disputa nas urnas depois da tentativa de golpe de Estado e o clima de enfrentamento entre governistas e oposicionistas tende a repetir o clima de acirramento da disputa de 2022.

Assédio eleitoral

Novo presidente do TST, o ministro Vieira de Mello Filho anunciou logo ao chegar uma “atenção especial” para o problema do assédio no ambiente de trabalho. No discurso da posse, no dia 25 de setembro, ele classificou como “uma chaga que ameaça retornar à nossa história política, agora com diferentes facetas”.

Em outubro de 2024, os tribunais trabalhistas e eleitorais e o Ministério Público do Trabalho fecharam uma parceria para ser implementada em 2026 para coibir esse tipo de ilegalidade. O pacto busca garantir o “direito fundamental da cidadania, o voto secreto e consciente”, segundo Mello Filho.

Robôs da desinformação

No profícuo universo da internet, fake news difundidas em vídeos feitos com ajuda de programas de inteligência artificial dão vida a réplicas humanas, com voz e aparência física idênticas às dos originais. Com a evolução tecnológica, o combate ao uso da IA para a disseminação de mentiras e desinformação se tornou um desafio para a Justiça. Fachin elegeu a “proliferação de vídeos falsificados por meio de inteligência artificial” como prioridade no horizonte eleitoral e político de 2026.

A “desinformação” gerada por robôs corrompe o “processo democrático”, entende o novo presidente do STF. No cargo de presidente do TSE, o ministro e sua equipe sentiram o aumento do uso de novas tecnologias nas práticas ilegais.

Puxados pelo compasso de Fachin, os chefes dos tribunais superiores uniram forças e adotaram uma rotina de encontros regulares e coletivos nas duas primeiras semanas de trabalho dessa composição – que inclui, além do TSE e TST, o ministro Herman Benjamin, do STJ (Superior Tribunal de Justiça), a ministra Maria Elizabeth Rocha, do STM (Superior Tribunal Militar) e o ministro Mauro Campbell, corregedor nacional de Justiça.

Os presidentes do STF, do TST e do TSE traçam com suas equipes técnicas os planos em diferentes frentes de combate para evitar retrocessos político e institucionais. Nas reuniões, discutem e acertam formas de atuação coordenada.

Leia a reportagem completa em PlatôBR.