Luciana Lima
Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), no Senado, Hugo Motta (Republicanos-PB), na Câmara. Os dois foram eleitos neste sábado, 1º, para comandar as duas Casas legislativas em 2025 e 2026 e representam a continuidade do pragmatismo fisiológico que conduz a política feita pelo do chamado Centrão e que, há anos, domina o Congresso Nacional.
Trata-se de uma política que, às vezes mais, às vezes menos, entra em conflito com os outros dois poderes em nome de “manter as prerrogativas parlamentares”. É a vitória de uma turma que, mais que ideologia de direita ou esquerda, pensa em se manter no poder na pressão por recursos, cargos, prestígio e, claro, poder.
Não à toa, os dois fizeram questão de apontar em seus discursos de posse a defesa do Parlamento em contraposição aos demais poderes. Essa ideia soa como música aos ouvidos dos deputados e senadores que pensam seus mandatos em contraposição ao Executivo ou ao Judiciário.
E, não à toa, os dois falaram em “harmonia”. Hugo Motta chegou a fazer associação com o agá de seu nome: “Tentarei ser o presidente com agá de Hugo, mas sobretudo com o agá de humildade e o agá da harmonia”. Alcolumbre falou em harmonia entre os poderes, mas mandando uma série de recados. Não abandonou a pressão.
O amapaense foi eleito no Senado no primeiro turno com 73 votos. Ele precisava de 41. Com esse placar, Alcolumbre se torna o terceiro presidente do Senado eleito com maior número de votos desde a redemocratização. Antes vêm dois representantes do atual MDB: Mauro Benevides, em 1991, José Sarney, em 2003, ambos com 76 votos. Na Câmara, Hugo Motta obteve 444 votos. Precisava de 257. Lira, que avalizou seu nome, fora reeleito dois anos atrás com 464 votos.
O pensamento dos políticos Centrão é tão dominante no Congresso que o leque de alianças que os levaram à vitória acachapante se estendeu da direita à esquerda, do PL ao PT.
O PlatôBR fez uma cobertura especial do sábado de eleições. Assista aqui às três lives transmitidas direto de nosso estúdio montado dentro do Congresso, com entrevistas e análises exclusivas:
Assim que o resultado foi proclamado no Senado, uma cena mostrou bem o quanto as forças políticas dependem do Centrão tanto para governar quanto eleitoralmente: Alcolumbre recebeu das mãos do líder do governo no Congresso, Randolfe Rodrigues (PT-AP), o telefone com uma chamada do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que o parabenizou. Falou por cerca de um minuto com ele. Ao desligar, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) já tinha na linha seu pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro.
Em seus discursos após a vitória, Hugo Motta e Davi Alcolumbre fizeram questão de defender a autonomia e as prerrogativas do Congresso. Motta evocou Ulysses Guimarães por várias vezes e repetiu um de seus gestos mais célebres. Levantou-se da cadeira, ergueu um exemplar da Constituição e entoou a frase “Viva a democracia!”. Para governistas, aliás, as várias menções a Ulysses e à democracia, incluindo a igualmente célebre frase “Ódio à ditadura, ódio e nojo”, foi um sinal de descolamento das franjas radicais do bolsonarismo.
Tanto o PT quanto o bolsonarismo dependem do centro para vencer as eleições. O governo de Lula depende do Centrão para governar. O governo de Bolsonaro dependeu e foi ao ponto de terceirizar para o grupo a gestão das emendas, fortalecendo ainda mais os partidos do consórcio durante o tempo em que Arthur Lira esteve à frente da Câmara. A própria chegada de Motta ao poder na Câmara é sinal de que a política liderada por Lira foi vitoriosa.
Na Câmara, antes da votação, ainda ao discursar pedindo o apoio dos colegas deputados, Hugo Motta rendeu homenagens a Lira, puxou longos aplausos, mas também buscou se diferenciar se colocando como “mais igual”, aproveitando das críticas feitas ao ex-presidente da casa por deputados.
“Faço aqui meu compromisso de, caso eleito, facilitar as audiências, criar uma rotina periódica de acesso ao presidente, com reuniões da mesa diretora de forma mais inclusiva e com transparência de decisões. Sou mais um entre vocês. E, como presidente, isso não vai mudar”, disse o paraibano, que também buscou reforçar as premissas centristas, de crítica à polarização ideológica e de afirmação do poder do parlamento em contraposição aos demais poderes.
É nesse ponto que Motta é visto como mais previsível e menos centralizador que Lira e, nesse sentido, visto pelo governo como mais fácil de lidar que o alagoano.