O impacto da condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado fez a oposição chegar desorganizada ao Congresso depois do fim do julgamento. Até a semana passada, o líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (RJ), fazia uma defesa enfática da anistia “ampla, geral e irrestrita”, em confronto com o STF. Essa disposição mudou depois das sentenças impostas pelo Supremo aos réus do núcleo central da tentativa de golpe.
O que se viu nesta segunda-feira, 15, véspera da reunião de líderes da Câmara que pode definir o futuro próximo da proposta, foi uma sequência de desencontros que reduziram a capacidade da oposição de impor pressão para fazer a votação acontecer no Congresso. Mais uma vez, os bolsonaristas contavam com o desembarque em Brasília do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), para trabalhar pela anistia. Tarcísio, porém, desistiu da viagem que ocorreria no final da tarde.
Em vez de dar mais um passo em defesa da anistia, o governador decidiu pedir autorização ao ministro Alexandre de Moraes, relator da ação que condenou os golpistas, para visitar o ex-presidente na prisão domiciliar. O pedido foi atendido, mas para o dia 29 de setembro. Ao fixar essa data, o ministro adiou em duas semanas uma conversa que será importante para as negociações em torno da anistia e, possivelmente, para a definição da candidatura do campo da direita para 2026.
Mesmo depois da condenação, Bolsonaro tenta manter o poder de influência na oposição. A defesa do ex-presidente pediu a Moraes autorização para ele receber visitas semanais de aliados, incluindo na lista o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, e o deputado Rodrigo Valadares (União-SE), relator do projeto de anistia, além de Tarcísio. Os advogados usaram como argumento a necessidade de Bolsonaro coordenar pautas institucionais, planejar ações políticas de alcance nacional e, também, de manter “interlocução” com Valdemar.
Os pedidos foram autorizados pelo ministro, mas em datas específicas, não semanais. Valdemar e Valadares puderam visitar o ex-presidente na noite desta segunda-feira, 15, e Tarcísio duas semanas depois.
Além da ausência do governador em Brasília nesta segunda, outro fator atrapalhou as conversas da oposição. No sábado, 13, Valdemar admitiu em uma entrevista que houve planejamento para um golpe de Estado na transição de governo, justamente a tese defendida pelos ministros do STF para condenar o ex-presidente. Diante das críticas que recebeu de bolsonaristas, o presidente do PL tentou se corrigir nesta segunda, mas o estrago já estava feito. Nas redes, ele já havia recebido críticas de aliados importantes de Bolsonaro, como o empresário Paulo Figueiredo, o advogado Fabio Wajngarten e o deputado Ricardo Salles (Novo-SP).