PlatôBR: General pode ser punido por versões diferentes sobre trama golpista

General Freire Gomes apresentou ao Supremo uma versão mais branda do papel de Garnier Santos na trama golpista. Alexandre de Moraes demonstrou irritação com a aparente contradição

Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil
Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil

O depoimento prestado pelo ex-comandante do Exército Marco Antônio Freire Gomes (foto) ao STF nesta segunda-feira, 19, lançou dúvidas sobre o apoio prestado por seu colega da Marinha, Almir Garnier Santos, à trama golpista idealizada no governo de Jair Bolsonaro. As novas declarações podem amenizar a situação do almirante nas investigações. Mas, por outro lado, o próprio general corre risco de se complicar.

Freire Gomes disse em março de 2024 à Polícia Federal que ele mesmo e o brigadeiro Carlos Baptista Junior, então comandante da Aeronáutica, foram contundentes ao negar apoio à tentativa de golpe de Estado. Já o comandante da Marinha, segundo ele contou aos policiais, teria se colocado à disposição de Bolsonaro.

Perante o STF, o general mudou a versão. Ao ministro Alexandre de Moraes, afirmou que, quando Bolsonaro apresentou aos comandantes das Forças Armadas a chamada minuta do golpe, Garnier teria demonstrado “respeito” ao então presidente, sem manifestar uma opinião clara.

Moraes ficou irritado e interrompeu a fala de Freire Gomes: “Quero advertir a testemunha, ela não pode omitir o que sabe. Vou dar à testemunha a chance de dizer a verdade, não pode agora perante o STF falar que não lembra”. E finalizou: “Ou o senhor falseou a verdade na polícia, ou está falseando a verdade aqui”.

Freire Gomes tentou se equilibrar em uma resposta que contemplasse o depoimento à PF e a declaração a Moraes. Manteve, portanto, um discurso bem menos contundente que o do ano passado.

“Com 50 anos de Exército, jamais mentiria. Eu e o brigadeiro Baptista Junior nos colocamos contrário ao assunto, e que eu estava focado no que eu falei, não me recordo efetivamente da posição do ministro da Defesa, e o almirante Garnier ficou com essa postura de ficar com o presidente. Eu não posso inferir o que ele quis dizer com o estar com o presidente. Eu não omiti dado. E afirmo: ele disse que estava com o presidente, a intenção do que ele quis dizer com isso não me cabe”, afirmou no STF.

Se ficar comprovado que o general mentiu, ele pode se complicar: testemunhas que mentem à Justiça ou à polícia podem responder por crime de falso testemunho, expresso no artigo 342 do Código Penal. A prática rende de dois a quatro anos de reclusão, mais pagamento de multa.

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