O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez do encontro do PT, neste domingo, 3, um momento de colocar freios e tentar sanar o que chamou de “picuinhas” internas. O objetivo é unificar a legenda em torno de dois grandes objetivos para 2026: sua reeleição e aumentar a bancada do partido, principalmente no Senado. No processo de corrigir os rumos, Lula buscou lembrar o passado e ressignificar momentos sombrios como o da Lava Jato e do Mensalão, em falas que servem tanto para o partido, quanto para fora.
Ao mesmo tempo que Lula iniciou seu discurso mostrando no telão uma foto de antigos fundadores, também buscou reabilitar lideranças da legenda tombadas ao longo das investigações da Lava Jato e do Mensalão. “Isso é para que a gente não esqueça que, antes de a gente chegar no PT, alguém tinha criado esse partido”, apontou Lula, que também cobrou dos filiados que lessem o manifesto de criação da sigla, o publicado em 10 de fevereiro de 1980.
“Nós precisamos, daqui para frente, reparar os erros que cometemos. Se a gente não comenta os erros, podemos continuar cometendo. Estou feliz que o companheiro Delúbio está presente nesta plenária. Acho extremamente importante a volta do José Dirceu à direção nacional, João Vaccari, Genoino”, disse, evocando a ideia de que filiados do PT não podem se envergonhar de lideranças como o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, o ex-secretário de Finanças da legenda João Vaccari Neto e o ex-presidente do partido José Genoino.
Bronca
Com a autoridade de um pai, deu bronca nos filiados, inclusive pelo não pagamento do partido. “Tem gente que trabalha no governo e não paga o PT, precisa pagar. Se tiver ministro que não paga o PT e for do PT, é só me dar a relação, Gleide”, disse Lula, referindo-se à secretária de finanças do partido, Gleide Andrade (MG).
Saúde 100%
Lula se preocupou em afastar desconfianças sobre sua capacidade de desempenhar um novo mandato, que se iniciaria, caso reeleito, aos 81 anos de idade. “Para eu ser candidato, eu tenho que ser muito honesto e sincero e comigo, eu preciso estar 100% de saúde. Para ser candidato, e depois acontecer o que aconteceu com o Biden, jamais. Não vou enganar o partido”, disse o petista, apontando a falta de condições do ex-presidente norte-americano, Joe Biden, que precisou ser substituído na campanha democrata pela então vice, Kamala Harris.
Imagem de Lula
Os conselhos e orientações de Lula chegam ao PT com uma perspectiva de candidatura bastante definida e corroborada pela melhoria do desempenho do presidente. Pesquisa Datafolha divulgada no fim de semana apontou Lula liderando em todos os cenários em que disputa no primeiro turno e, no segundo, mostra o petista se descolando, no limite da margem de erro, de Jair Bolsonaro (PL-RJ) e do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP).
A consulta feita entre os dias 29 e 30 de julho apontou que Lula vence Bolsonaro por 47% a 43%. Em um cenário com Tarcísio de Freitas (Republicanos), o governador de São Paulo tem 41%, enquanto Lula marca 45%. Se a candidata for a ex-primeira-dama Michelle, Lula teria 48% contra 40% a mulher de Bolsonaro. Se adversário for Eduardo Bolsonaro, Lula teria 49% contra 37%.
Senado
Na conta de Lula, o Senado precisa ser priorizado pela legenda para impedir que a direita bolosonarista consiga cadeiras para ter maioria na Casa. “Nós temos que prestar atenção nisso. Os nossos senadores, nós temos quase todos [disputando a] reeleição. Eles, não. Eles já têm 25 senadores. Se eles elegerem 17, eles vão para 41 e vão fazer maioria no Senado”, alertou, ressaltando que muitas candidaturas não podem ser analisadas seguindo o desejo pessoal, mas a estratégia partidária. “Aqui nós temos uma coisa muito engraçada, o cara se autodetermina candidato a alguma coisa e depois impõe ao partido a candidatura. Isso para vereador, para deputado estadual, para tudo”, criticou.
Nesse contexto também se insere o futuro político do ministro Fernando Haddad (Fazenda) que não manifestou desejo de ser candidato, mas que é julgado no PT como um político que precisa desempenhar uma missão em São Paulo, se candidatando ao Senado.
“Futuro sem Lula”
O encontro do PT também mostrou a dependência do partido à liderança de Lula. O presidente conseguiu, mais uma vez, emplacar um nome seu na condução da legenda: Edinho Silva, que contou com resistência das alas mais à esquerda, mas venceu com ampla maioria. Edinho chegou a alertar sobre o desafio do partido sem a figura de Lula. “Nós teremos, no próximo período, tarefas fundamentais. Primeiro, temos a responsabilidade de construir o Partido dos Trabalhadores para quando o presidente Lula não estiver mais nas urnas disputando o nosso projeto”, enfatizou, Edinho Silva.