PlatôBR: Em baixa, Lula perde força na reforma ministerial e nas alianças para 2026

Governistas admitem que terão de dar mais cargos a nomes do Centrão, como o deputado Isnaldo Bulhões (MDB-PB), sem o compromisso de unidade nas próximas eleições

Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil
Brasília (DF) 11/02/2025 Presidente Luiz Inácio Lula Da Silva discursa na abertura do Encontro de Novos Prefeitos e Prefeitas Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil

* Luciana Lima e Gilberto Nascimento

Com a notícia de queda recorde na popularidade, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem cada menos chances de conseguir fechar logo uma aliança em torno de sua candidatura à reeleição ou de apoio ao nome que poderá encarnar a candidatura em seu campo político. Lula queria, com a reforma ministerial, dar mais espaço ao Centrão e, com isso, firmar compromissos de apoios em 2026 de legendas como o MDB, o PSD, o PP, o Republicanos e o União Brasil. Todas essas siglas já têm pastas no governo, mas não se obrigaram a entregar apoio no Congresso, por exemplo. Agora, rejeitam o compromisso de se aliarem a Lula e ao PT nas próximas eleições.

O maior nó da reforma ministerial há algum tempo agora ficou ainda mais apertado diante dos números apresentados pelo Datafolha na sexta-feira, 14, mostrando que a aprovação do presidente desabou em dois meses de 35% para 24%. É o menor índice do petista em seus três governos.

O MDB, por exemplo, trabalha com a perspectiva de ampliar sua participação no governo. A ideia do partido é assumir a SRI (Secretaria de Relações Institucionais), hoje nas mãos de Alexandre Padilha (PT). Conversas nesse sentido já ocorreram, segundo lideranças do partido. Para a vaga, o nome cotado é o do paraibano Isnaldo Bulhões (foto). Ele teria a simpatia do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), o que poderia facilitar a articulação.

Enquanto as movimentações de Lula seguem no caminho de amarrar os apoios, o MDB foge desse compromisso. Para membros do partido, principalmente de São Paulo, um “compromisso eleitoral com o PT de Lula ainda tem um caráter tóxico”. Um integrante da legenda considerou que o  antipetismo ainda é muito forte em consequência da grande polarização das eleições passadas.

A SRI é estratégica por ser responsável pelas negociações com o Congresso a cada votação e, também, pelos acertos para liberação de emendas parlamentares.

A sede do Centrão

Um ex-dirigente petista hoje no governo diz que o PT está preparado para ver o Centrão avançar sobre cargos importantes na administração federal. Nesse sentido, o número de petistas que terá de deixar os cargos para abrigar indicações dos aliados será maior do que o partido previa no início das conversas sobre reforma ministerial. O Centrão virá com muita sede, avaliou o petista.

Para esse governista, uma das razões pela perda de popularidade do presidente Lula hoje é a avaliação negativa entre os evangélicos. Por essa leitura, o PT até hoje não sabe como falar com esse segmento religioso.

A maioria dos evangélicos no país, segundo pesquisas, é formada por mulheres, pobres e negros, o público para o qual o governo petista mira os seus programas sociais. Essa parcela da população reconhece os projetos sociais petistas, admite ser beneficiada com as medidas, mas não dá o crédito nem o voto necessariamente ao presidente.

Bispos e pastores evangélicos, em muitos templos, chegaram a afirmar que Lula criou projetos sociais, mas “porque Deus quis e determinou”, e não por uma vontade própria do presidente. Esse discurso encontra aceitação entre os fiéis.

Um ex-parlamentar petista também em cargo importante no governo observou que projetos sociais como o Bolsa Família já foram incorporados pela população, não são mais novidades e não rendem mais votos. Já seriam vistos como uma obrigação do governo e não há mais motivos para que o eleitor dê o seu voto ao presidente em retribuição por isso. O governo, no entanto, não havia se dado conta dessa nova realidade.

Demais medidas consideradas positivas adotadas pelo governo também não são informadas à população por falhas na comunicação, de acordo com o mesmo petista. Essa deficiência foi apontada pelo novo ministro da Secom (Secretaria de Comunicação da Presidência), Sidônio Palmeira, logo na chegada dele ao governo, em janeiro.

O terceiro ponto, para o ex-parlamentar petista, é mais complicado: as deficiências reais do governo em áreas essenciais, como a saúde, onde as “entregas” cobradas por Lula e Sidônio não estariam ocorrendo. Não é só entregar, mas o que entregar, constatou o petista. Na pasta, ele apontou problemas como o lançamento de uma campanha de vacinação contra a dengue, no ano passado, num momento em que o Ministério da Saúde não dispunha de vacinas suficientes.

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