PlatôBR: Dois ministros têm problemas de relacionamento com o Parlamento

Fernando Haddad contrariou Hugo Motta por criticar aumento do número de deputados. Alexandre Silveira caiu em desgraça com David Alcolumbre por causa de brigas na pasta que comanda

Lula Marques/ Agência Brasil
Foto: Lula Marques/ Agência Brasil

Nos dois primeiros anos do mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, um ministro encarnou o papel de persona non grata do então presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL): o atual titular da Saúde, Alexandre Padilha (PT-SP), que coordenou a articulação política do governo à frente da SRI (Secretaria de Relações Institucionais). Passada lua de mel de Lula com os presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), dois nomes da Esplanada não são mais bem-vindos na cúpula do Congresso: Fernando Haddad (Fazenda) e Alexandre Silveira (Minas e Energia).

Haddad está no centro da maior crise do Congresso com o governo desde que o comando da Câmara e do Senado foi renovado. O ministro é tido como pouco político, adota um tom professoral e nada agradou ao propor o aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeira) sem antes combinar com Motta e Alcolumbre. Esse fato tem sido usado de justificativa por Motta para explica sua decisão de pautar na quarta-feira, 25, também sem combinar, a derrubada do decreto do ministro que elevava as alíquotas do imposto.

Nessa aposta, Motta impôs uma derrota retumbante ao governo que, pouco antes da votação, ainda procurava justificativas para o ato. Entre as hipóteses, claro, uma entrevista concedida por Haddad na terça-feira, 24, à TV Record, com críticas ao projeto defendido por Motta para aumentar o número de deputados e, consequentemente, elevar os gastos do legislativo. A proposta foi aprovada na Câmara e no Senado no mesmo dia que o Congresso derrubou o aumento do IOF.

De olho no cargo

O problema de Silveira é com o presidente do Senado. Alcolumbre tem interesse em indicar um apadrinhado para o Ministério de Minas e Energia e cobra a demissão do titular. Essa insatisfação do senador está na origem da combinação que ele fez com Motta para o ataque duplo ao governo, sem chances de reação, bem no meio da semana de festejos juninos no Nordeste que, seguindo a tradição da Câmara e do Senado, funciona como um recesso informal para deputados e senadores.

A briga do presidente do Senado com Silveira é antiga. No ano passado, os dois romperam relação por causa de brigas internas entre aliados de Alcolumbre que trabalham na pasta e o ministro. O aval para que Silveira se tornasse ministro foi de Alcolumbre, a pedido do então presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e com o apoio de líderes como Eduardo Braga (MDB-AM) e Otto Alencar (PSD-BA).

No dia da votação, Alcolumbre estava particularmente chateado com Silveira devido à postura do ministro de se antecipar à derrubada dos vetos de Lula ao marco legal das eólicas, cogitando mandar ao Congresso uma medida provisória para mitigar os impactos na conta de luz. O protagonismo de Silveira nesse assunto irritou o presidente do Senado, que acredita que Silveira trabalhou para convencer o chefe da Casa Civil, Rui Costa, de que o acordo pela derrubada dos vetos era ruim. O governo perdeu, mas o desgaste ficou.