Os desdobramentos da ocupação nesta semana das mesas diretoras da Câmara e do Senado por aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) certamente repercutirão na política brasileira nas próximas semanas. As negociações feitas nos bastidores para a retomada dos trabalhos, por exemplo, envolveram as pautas que serão encampadas pela cúpula do Congresso.
Outro aspecto que contribuirá para a continuação do confronto aberto entre governistas e oposicionistas será o tratamento que o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), dará aos parlamentares que obstruíram seu acesso à mesa. Por terem tentado impedir a instalação da sessão na noite de quarta-feira, 6, pelo menos cinco invasores estão sendo acusados de quebra de decoro e podem ser punidos.
O próprio Motta ameaçou suspender por seis meses os mandatos dos deputados que bloquearam sua passagem no plenário. Nesta quinta-feira, 7, ele disse que logo vai anunciar medidas contra congressistas que descumpriram regras do regimento interno.
O líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (RJ), disse que vai entrar com ações contra os invasores e, segundo disse, pretende pedir a cassação dos principais responsáveis. Nesta quinta, ele e a líder do PSol, Talíria Petrone, entraram com representações no Conselho de Ética com pedido de suspensão temporária de mandato contra cinco deputados e apontaram justificativas: Zé Trovão (PL-SC) teria colocado uma das pernas na frente de Motta para impedir que ele chegasse à sua cadeira; Marcel Van Hattem (Novo-RS) e Marcos Pollon (PL-MS) sentaram-se nas cadeiras da mesa diretora e resistiram a sair para que o presidente da Câmara dirigisse a sessão; Paulo Bilynskyi (PL/SP) também foi um dos responsáveis pela interdição da mesa, caso semelhante ao de Júlia Zanatta (PL-SC), que chamou ainda mais a atenção por carregar nos braços, durante parte do tempo, um bebê de quatro meses, sua filha.
O andamento dessas representações vai depender da correlação de forças dentro do plenário da Câmara. Como foi vítima dos invasores, Motta age no primeiro momento em sintonia com os interesses da ala governista. Nesta quinta-feira, disse que vai analisar as imagens do plenário para decidir como vai reagir. Os próximos passos vão demonstrar até que ponto ele pretende enfrentar a bancada bolsonarista, que tumultuou as sessões esta semana mas apoiou sua eleição para a presidência da Câmara.