Deputados do PL começaram a se afastar do ex-presidente Jair Bolsonaro. Vários deles têm se aproximado do governo e, em determinados temas, votado junto com a base do presidente Lula. Entre os 93 parlamentares da bancada do partido, 30 são considerados “bolsonaristas-raiz” e continuam fiéis ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Entre os demais, o governo tem conseguido obter apoio.
A aproximação do governo ficou clara no placar da votação da PEC do corte de gastos – que mudava as regras do abono salarial e dos supersalários do funcionalismo: 17 deputados do PL votaram em primeiro turno a favor da proposta defendida pelo governo Lula (71 foram contra) e 18 deram o aval novamente na votação em segundo turno (76 rejeitaram).
O deputado João Carlos Bacelar (PL-BA) confirma o “fenômeno”: diz que entre 20 e 30 deputados da bancada têm votado com o governo. E ele próprio é um desses. “Sim, eu sou deputado pela Bahia. Certo. Não tenho vergonha de dizer isso, não”, respondeu prontamente. Bacelar conta que que seguiu ao lado do ex-presidente Bolsonaro “até a boca do precipício”. “Isso quase custou a minha eleição, por causa dessa minha posição. Aí, passou a eleição, eu virei a página, conforme o meu eleitor exigiu”, emendou.
Nos bastidores, outros parlamentares – de partidos como o Republicanos e o União Brasil – dizem que parte da bancada nem sequer seria a favor, no momento, de uma eventual anistia política para Jair Bolsonaro e seus aliados encrencados com a Justiça. Publicamente, porém, nenhum deles confirma isso. Sobre esse tema, João Carlos Bacelar diz que votaria a favor “para que Bolsonaro e Lula possam disputar no voto e o eleitor decidir quem é melhor”.
Bacelar não votou na sessão em que a PEC de corte de gastos foi aprovada. Não deu o seu voto a favor nem contra. Mas ele se diz um deputado governista. Era no governo Bolsonaro e continua sendo hoje. E argumenta que a maior parte de seus eleitores na Bahia é a favor de Lula e votou no então candidato petista na última eleição presidencial.
“Porque eu sou da Bahia. Tem lá a figura do senador Jaques Wagner (PT), muito forte. Tem a figura do ex-governador e atual chefe de Casa Civil, Rui Costa. São fortíssimos. O meu eleitor na Bahia quer essa posição. Então, não vou ser contra o meu eleitor”, afirma.
Sua reeleição, segundo contou, foi ameaçada por causa da polarização. “Tive a eleição ameaçada por essa divisão, essa polarização. E eu sou da Bahia, pô, não sou deputado por São Paulo, nem Sergipe nem Santa Catarina ou muito menos o Paraná. Teve um município onde eu tenho voto, o prefeito me apoia e todas as obras fui eu que encaminhei onde, de cada 10 eleitores, 9,5 votavam com o Lula. O que eu ia fazer?”, diz, citando a cidade de Jussara, no centro-norte baiano.
“Extremas direita e esquerda só fizeram mal ao Brasil”
O deputado Nelsi Coguetto Maria (PL-PR), conhecido como Vermelho, votou a favor da PEC do corte de gastos do governo e afirma que os eleitores brasileiros hoje não são mais favoráveis a posições radicais nem de extrema direita nem de extrema esquerda. “A extrema esquerda e a extrema direita só fizeram mal ao Brasil”, afirma o parlamentar.
Para o deputado, ex-prefeito do município de Salto do Lontra, no sudoeste paranaense, as últimas eleições municipais confirmaram essa impressão. Os partidos que mais elegeram prefeitos foram o PSD, o PP e o MDB. “O eleitor hoje tende muito mais a votar em posições de centro. E está rejeitando os extremismos”, afirmou. Perguntado, no entanto, se aprova hoje as posições políticas de Bolsonaro, Vermelho evitou continuar a conversa. Há rumores de que o deputado possa em breve deixar o partido do ex-presidente e migrar para o PP, legenda que já abriga seu filho, Matheus Vermelho, deputado estadual no Paraná.
Uma parcela dos deputados federais do PL, porém, não admite que colegas estejam piscando para Lula e para o Planalto. Alguns, especialmente aqueles mais alinhados com Jair Bolsonaro, rechaçam a ideia ou afirmam não ver sinais desse movimento. É o caso de Eduardo Pazuello (PL-RJ), ex-ministro da Saúde de Bolsonaro. “Nunca ouvi falar isso. Não ouvi qualquer comentário”, afirmou ao PlatôBR.