Na semana em que o ex-presidente Jair Bolsonaro passou a usar tornozeleira eletrônica por ordem do ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), o nome da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro passou a ser inflado nas fileiras do PL como possível candidata à Presidência da República. Bolsonaro está proibido de usar suas redes sociais e precisa ficar recolhido em sua casa no período da noite e nos fins de semana. Já Michelle tem assumido cada vez mais uma agenda de pré-campanha, viajando pelo país e manifestando apoio a aliados.
Um parlamentar da cúpula do PL, que pediu para não ser identificado, disse ao PlatôBR que no partido a ordem dizer que Jair Bolsonaro é o nome para 2026, apesar da inelegibilidade do ex-presidente. No entanto, ninguém acredita que ele conseguirá ser reabilitado. “Diante disso, o plano Michelle é o melhor para o partido, o mais viável. É a pessoa que tem mais chances de enfrentar Lula nas urnas”, disse a fonte, sob reserva, citando dados de uma pesquisa realizada pela Paraná Pesquisas há cerca de 15 dias que animou o partido em relação ao nome da ex-primeira-dama.
Dos nomes pesquisados, tirando Bolsonaro, o de Michelle foi o que mais se aproximou de Lula – mais que outras pessoas da família, como o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), ou o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ).
Em um dos cenários pesquisados, enquanto Lula pontuou 33,5% das intenções de voto, Michelle obteve 30,2%. Em outro cenário, considerando na disputa Tarcísio de Freitas (Republicanos), Lula aparecia 34% dos votos, enquanto o governador de São Paulo tinha 24,3%. Em um contexto com Eduardo Bolsonaro, Lula marcou 33,8%, enquanto o deputado marcou 21,3. Com Flávio Bolsonaro como candidato, Lula aparecia 33,8% e o senador com 20,4%.
Agenda de candidata
O partido vem apostando em uma agenda de candidata para Michelle, que presidente o PL Mulher, braço do partido dedicado ao público feminino. Nos últimos dias, ela esteve no Acre e gravou vídeos em que aparece reclamando da falta de uma ponte em Cruzeiro do Sul, no extremo oeste do estado, e denunciando o problema de moradores ribeirinhos que sofrem com a dificuldade de se locomover pela região.
Depois, a ex-primeira-dama foi para João Pessoa, onde inaugurou a nova sede do PL na Paraíba e oficializou apoio à pré-candidatura do senador Efraim Filho (União Brasil) ao governo do estado. Detalhe: o apoio de Michelle a Efraim marcou o rompimento do líder do União Brasil no Senado com o governo Lula. Após o evento, na sexta-feira, 25, o senador anunciou a devolução dos cargos federais ocupados por pessoas que ele havia indicado na Paraíba. “Os cargos estão à disposição. São duas pessoas, duas indicações aqui na Paraíba, na Codevasf e nos Correios. São cargos técnicos, nem são políticos. O mesmo governo que nomeia é o mesmo que exonera”, declarou Efraim.
“A Paraíba vai mudar a sua história com Efraim no governo do estado e com Marcelo Queiroga senador. Precisamos de vocês, homens que entendem que a política é uma ferramenta de transformação”, disse Michelle em seu discurso, referindo-se também ao ex-ministro da Saúde Marcelo Queiroga, aliado de Bolsonaro, lançado por ela como pré-candidato ao Senado na chapa encabeçada por Efraim. “É inadmissível ver uma condenação cautelar de Jair Bolsonaro e ver o pivô da Lava Jato ser colocado nas ruas livres, por invalidar provas”, comparou Michelle, referindo-se ao presidente Lula.
Aulas de política
Um nome graduado no partido informou que Michelle tem estudado história política nas cartilhas do PL e conta com a orientação do corpo jurídico do partido. Ela tem ainda se aconselhado politicamente com o governador de Santa Catarina, Jorginho Mello, e com o senador Rogério Marinho (PL-RN). “O PL tem cursos de política e ela está sendo muito bem orientada”, disse um alto dirigente do partido.
Ao falar sobre a aceitação do presidente da legenda, Valdemar da Costa Neto, sobre o nome de Michelle para a presidência, o dirigente apostou no pragmatismo. “Valdemar não é bobo. Se considerar que ela será o melhor nome para vencer as eleições, ele a escolherá”, disse.
Outro ponto que o PL pretende resolver em uma possível candidatura de Michelle é o da resistência de mulheres a Jair Bolsonaro devido à sua atuação na pandemia de Covid-19, quando era presidente da República. Uma consulta interna do partido indicou que 53% das mulheres rejeitam a gestão de Bolsonaro na pandemia. “Ela fala com firmeza, é delicada e é mulher. Ela tomou vacina e representa o oposto de Bolsonaro nesse contexto”, analisa uma fonte do partido.
Contraponto com Janja
Outro objetivo do PL é seguir na crítica e na comparação com a atual primeira-dama, Janja da Silva. Daí o olhar vigilante sobre as possíveis gafes cometidas pela mulher de Lula, seja em situações corriqueiras domésticas, seja em contextos internacionais. “Você não verá Michelle falando determinadas coisas que são faladas pela atual primeira-dama. Esse é um contraponto importante que o partido pretende explorar”, ressalta um aliado.
De acordo com um correligionário, há uma avaliação no PL de que a movimentação de Eduardo Bolsonaro nos Estados Unidos não tem contribuído para que ele se viabilize como candidato. Dirigentes entendem que o filho 03 de Jair Bolsonaro fomenta os bolsonaristas mais extremos, mas não tem o apoio de outros setores da legenda que querem se descolar, por exemplo, da sobretaxa prometida por Donald Trump e de outras ações de Eduardo que, mesmo internamente, são vistas como sabotagem ao país.