Na semana passada, ao saber que havia sido incluído nas investigações da Polícia Federal, o pastor Silas Malafaia disse que não tinha medo de ser preso e que viraria “mártir evangélico” por causa do processo. Em entrevistas, afirmou que o ministro Alexandre de Moraes estava “mexendo em casa de marimbondo” e previu reação da numerosa população cristã do país. Nessas manifestações, ele demonstrou confiar no apoio de sua comunidade religiosa no enfrentamento que trava com o Supremo.
No meio político, as manifestações de solidariedade foram dadas nesta quarta-feira, 20, tão logo surgiu a notícia da operação de busca e apreensão realizada pela PF contra Malafaia no aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro. Líderes oposicionistas na Câmara e no Senado deram início imediatamente a uma campanha de mobilização por meio da redes sociais na defesa do pastor. “Somos todos Malafaia” foi o mote escolhido pelos deputados e senadores bolsonaristas engajados no repúdio à ação da polícia.
Na sessão da Câmara, o presidente da bancada evangélica, deputado Gilberto Nascimento (PSD-SP), defendeu o pastor investigado. “Eu gostaria de deixar aqui, em nome da frente parlamentar evangélica, a nossa solidariedade ao pastor Silas Malafaia”, disse o congressista. Ele disse ainda que o aliado tem residência fixa e que a Polícia Federal poderia tê-lo intimado, em vez de realizar a operação de busca e apreensão.
Líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (RJ) se manifestou pelas redes sociais. “Malafaia foi alvo de constrangimento ao lado da esposa. Um líder religioso, que nunca se escondeu, sendo tratado como criminoso. Um constrangimento total. Uma vergonha nacional. Isso não é Justiça. É perseguição política! Somos todos Malafaia”, postou o deputado.
A mesma frase foi reproduzida por outros parlamentares, como o líder da oposição na Câmara, deputado Zucco (PL-RS), o deputado Gustavo Gayer (PL-GO) e o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho do ex-presidente. O deputado Delegado Caveira (PL-PA) foi para o plenário para chamar o ministro Alexandre de Moraes de “ditador da toga”.
Pauta legislativa
A menos de duas semanas do início do julgamento de Bolsonaro, o indiciamento de Malafaia acirra ainda mais os ânimos no Congresso, inflamados pela polarização. A operação da PF contra o pastor foi feita no final de um dia de derrotas para o Planalto: a oposição conseguiu eleger o presidente e o relator da CPI mista do INSS e, também, aprovou o voto impresso na CCJ do Senado.
Esses fatos mostram que, nessas primeiras semanas do semestre, é evidente a influência da oposição sobre o andamento dos trabalhos legislativos. Mas essa força não é suficiente para fazer avançar todas suas propostas.
Os áudios divulgados pela PF nesta quarta-feira mostram o ex-presidente dizendo que somente a aprovação de uma anistia para todos os envolvidos na tentativa de golpe poderia fazer cessar as sanções contra o Brasil, como o tarifaço imposto pelo presidente Donald Trump às exportações brasileiras e as medidas contra autoridades, principalmente o ministro Alexandre de Moraes. O perdão dos golpistas também foi uma das reivindicações dos deputados e senadores que ocuparam as mesas diretoras para forçar a votação de seus projetos.
Essa decisão depende do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), responsável pela definição dos temas que são levados a plenário. Motta, porém, já avisou que não aceita anistiar pessoas que tramaram assassinatos ou atentados. Com essa posição, ele pretende livrar das punições apenas os condenados por participar das depredações do 8 de Janeiro. Mas exclui o ex-presidente e os demais réus que comandaram a trama golpista. Essa redação não interessa aos bolsonaristas.
Em outro assunto que agrada à oposição, o fim do foro privilegiado, o presidente da Câmara também sinaliza a intenção de descartar propostas que possam beneficiar o ex-presidente. Nesta quarta-feira, ele indicou o deputado Lafayette de Andrada (Republicanos-MG) para elaborar uma proposta que trate apenas das prerrogativas parlamentares, sem alterar as instâncias dos processos contra congressistas, como defendem os aliados de Bolsonaro.