PlatôBR: Com evangélicos bolsonaristas, trunfo de Messias pode não funcionar

Aliados do advogado-geral da União buscam interlocução entre parlamentares para tentar superar animosidade da oposição, mas parte da bancada religiosa no Senado o identifica como um representante da esquerda e resiste a seu nome para o STF

Marcelo Camargo/Agência Brasil
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Antes de ser indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a vaga de ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), o atual chefe da AGU (Advocacia-Geral da União), Jorge Messias, acreditava que seu grande trunfo para conseguir a aprovação do Senado estaria no fato de ser evangélico. Nos cálculos dos interlocutores do ministro, essa característica poderia superar os sinais do placar apertado obtido, por exemplo, pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet, que conseguiu apenas 4 votos a mais que o necessário para sua recondução.

Mas esse trunfo pode não funcionar tão bem no Senado na atual conjuntura. Dos 81 senadores, 15 são evangélicos e, desses, pelo menos 8 são fortemente identificados com o bolsonarismo, como Damares Alves (Republicanos-DF), Alan Rick (União Brasil-AC), Eduardo Girão (Novo-CE), Flávio Bolsonaro (PL-RJ), Jorge Seif (PL-SC), Magno Malta (PL-ES), Marcos do Val (Podemos-ES) e Rogério Marinho (PL-RN).

Para esses parlamentares, Messias é pouco conhecido no meio evangélico e identificado mais como “menino de recado de Lula”, ou “jurista de esquerda”, característica que representa hoje um impeditivo para o voto de aprovação. De acordo com interlocutores importantes desse segmento no Senado, nem mesmo o apoio dado a Messias nas redes por André Mendonça, o ministro do STF “terrivelmente evangélico”, tem poder de mudar o voto de reprovação ao indicado de Lula.

Logo após a formalização do nome de Messias por Lula, Mendonça foi às redes sociais para parabenizá-lo e declarar apoio ao seu nome. “Parabenizo o Min. Messias pela indicação ao Supremo. Trata-se de nome qualificado da AGU e que preenche os requisitos constitucionais. Assim, também cumprimento o presidente da República por sua indicação. Messias terá todo o meu apoio no diálogo republicano junto aos Senadores”, postou o ministro.

Aliados de Messias buscam interlocução no Congresso para superar a animosidade. Para facilitar o diálogo, utilizam intermediários, como o deputado Cezinha de Madureira (PSD-SP), que tenta viabilizar um contato entre Messias e Damares. O governo também aposta na atuação da senadora Eliziane Gama (PSD-MA). Na campanha eleitoral de 2022, ela aproximou Lula de um segmento dos evangélicos e, agora, está na linha de frente da bancada governista para quebrar as resistências ao nome indicado pelo petista.

No Congresso, Messias também conta com o apoio do deputado Otoni de Paula (MDB-RJ), que é pastor e tem se aproximado do governo desde a ocupação por bolsonaristas das mesas diretoras da Câmara e do Senado, no início do semestre legislativo, para exigir a votação da anistia para o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL-RJ) e os demais condenados por tentativa de golpe de estado.

Na próxima semana, a bancada evangélica do Senado fará uma reunião especifica para discutir a indicação de Messias. Até lá, o advogado-geral da União participará de cultos e percorrerá gabinetes de senadores em busca de votos.