PlatôBR: As contradições da relação de Dias Toffoli com Lula e o petismo

Presidente não perdoou ministro do STF por não permitir que ele fosse ao velório do irmão. Ainda assim, anos depois, os dois retomaram o contato

Arte: Daniel Medeiros/PlatôBR
Foto: Arte: Daniel Medeiros/PlatôBR

Com uma trajetória pessoal e política marcada por contradições e reviravoltas, o ministro do STF Dias Toffoli surpreendeu mais uma vez ao anular todos os atos da Operação Lava Jato contra o ex-ministro da Fazenda e da Casa Civil Antonio Palocci, estendendo a ele uma decisão que já havia beneficiado o empreiteiro Marcelo Odebrecht. Políticos petistas evitaram comentar a decisão.

Dias Toffoli, ex-assessor do PT, foi advogado-geral da União no primeiro governo Lula e chegou ao STF em 2009 por escolha do então presidente. À época, sua indicação foi bombardeada por algumas alas do partido, mas o apoio da então primeira-dama, Marisa Letícia, teve papel fundamental para a nomeação. No PT, o que se diz é que dona Marisa, morta em 2017, gostava dele como se fosse um filho.

Visto até então como um petista, após chegar ao STF Toffoli tomou decisões contrárias a Lula e ao PT. Em 2018, quando Lula estava preso em razão das investigações da Operação Lava Jato, ele votou contra um recurso que poderia garantir sua liberdade durante a campanha eleitoral – em última instância, a decisão poderia até abrir caminho para a disputa da Presidência. Toffoli se alinhou a outros ministros que entendiam que a prisão era possível após uma terceira confirmação de sentença. Até aquele momento, no PT era dado como certo que ele votaria a favor do recurso dos advogados de Lula.

A decisão que mais incomodou, porém, foi outra. Em janeiro de 2019, Toffoli, então na presidência do STF, não permitiu que Lula comparecesse ao velório de seu irmão, Genival Inácio da Silva, o Vavá, em São Bernardo do Campo. Dois meses depois, Lula conseguiu autorização para ir ao funeral do neto Arthur, de 7 anos, que morreu vítima de meningite meningocócica.

A proximidade de Toffoli com o PT, antes da chegada ao STF, foi marcante. Até o início dos anos 1990, o hoje ministro, nascido em Marília, no interior de São Paulo, era apenas simpatizante do partido. Não tinha filiação.
À época, ele participou de um grupo de apoio a movimentos que reivindicavam moradia. Depois, foi consultor jurídico do Departamento Nacional dos Trabalhadores Rurais da CUT e assessor parlamentar da bancada petista na Assembleia Legislativa de São Paulo.

Entre 1995 e 2000, tornou-se assessor jurídico na liderança do PT na Câmara dos Deputados e, a partir de 2003, sub-chefe de Assuntos Jurídicos da Casa Civil, então comandada por José Dirceu. Em 2007, primeiro ano do segundo mandato presidencial de Lula, assumiu a Advocacia-Geral da União.

Já no STF, a partir de 2009, Toffoli se aproximou do ministro Gilmar Mendes. Os dois são da Segunda Turma do STF. Durante o governo de Jair Bolsonaro, esteve entre os interlocutores do então presidente com o Judiciário. Em março de 2020, chegou a receber Bolsonaro em sua casa para um jantar.

O reencontro com Lula veio dois anos depois. Após a vitória nas eleições de 2022, Lula encontrou Toffoli na cerimônia em que foi diplomado pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Na ocasião, de acordo jornalistas que reconstituíram a conversa, o ministro pediu desculpas ao petista por não ter permitido que ele visitasse o irmão.

“O senhor tinha o direito de ter ido ao velório. Me sinto mal com aquela decisão e queria dormir nesta noite com o seu perdão”, teria dito o ministro na ocasião. O então presidente eleito respondeu que o ministro ficasse tranquilo, e que conversariam em uma outra oportunidade.

Em setembro de 2023, Toffoli, ao anular as provas de um acordo de leniência da Odebrecht na Lava Jato, afirmou que a prisão de Lula foi “uma armação” e “um dos maiores erros judiciários do país”.

A mágoa de Lula, ainda assim, durou muito. O presidente evitava Toffoli em solenidades, de acordo com relatos de petistas. O ministro, por outro lado, mandava seguidos acenos. Em setembro do ano passado, os dois se encontraram, conversaram a sós durante duas horas e fizeram as pazes, conformou registrou o jornal O Globo. Lula convidou Toffoli para um jantar no Palácio da Alvorada.

De lá para cá, não tiveram novos encontros públicos. Apesar da retomada dos contatos, há quem garanta que a amizade nunca mais será a mesma.

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