A vida dos cardeais no período pré-conclave têm sido agitada. Embora o processo de escolha do novo papa só comece na manhã do dia 7 de maio, os cardeais brasileiros em Roma vivem uma rotina de reuniões matinais que servem como preparação para eleição do próximo pontifíce e ainda dividem o tempo com a celebração de missas, às vezes até mais que uma por dia. Assim deve ser até chegar a hora de entrarem na Casa Santa Marta e saírem de lá só para a Capela Sistina, onde ocorrerá o conclave, renunciando por completo ao contato com o mundo exterior.
As missas, em geral, são celebradas para padres e freiras, mas há também aquelas realizadas nas igrejas de Roma das quais cada cardeal é responsável – depois de nomeados pelo papa, os cardeais recebem a missão de cuidar de uma das igrejas da capital italiana, como como forma de fazer com que eles, para além do trabalho em seus países de origem, também se sintam parte da centralidade da Igreja.
Nesta segunda, 28, apressado, o cardeal Dom Jaime Spengler, saiu do Colégio Pio Brasileiro para um desses compromissos. “Eu preciso cuidar dos meus padres”, disse, bem humorado, ao PlatôBR, pedindo desculpas por não poder falar mais. Os cardeais vêm evitando dar muitas declarações antes de começar o conclave. Dom Jaime é arcebispo de Porto Alegre e o atual presidente da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) e um dos sete brasileiros com voto no processo de escolha do papa. Ele, por óbvio, também pode ser votado.
Dos oito cardeais brasileiros, sete estão hospedados no Pio Brasileiro, um grande alojamento para padres e seminaristas que do Brasil que chegam a Roma para estudar nas universidades ligadas à Igreja. O único que não está lá é dom João Braz de Aviz, que até recentemente ocupava um cargo na cúpula da Santa Sé e, por isso, tem residência em Roma, nas proximidades da Praça São Pedro.
Além de dom Jaime, estão no Pio Brasileiro dom Sérgio da Rocha, primaz do Brasil e arcebispo de Salvador, dom Odilo Pedro Scherer, arcebispo de São Paulo, dom Orani Tempesta, arcebispo do Rio de Janeiro, dom Paulo Cezar Costa, arcebispo de Brasília, dom Leonardo Ulrich Steiner, arcebispo de Manaus, e dom Raymundo Damasceno, arcebispo emérito de Aparecida.
Dom Raymundo, que era próximo do papa Francisco, está com 88 anos e, por esse motivo, não pode mais participar. Mesmo assim, ele permanece na cidade e tem se juntado aos demais cardeais nas missas diárias celebradas nas três capelas do colégio, uma instituição quase centenária, localizada na Via Aurelia, uma das principais da capital italiana. O colégio é administrado pela CNBB. O clero trata o lugar como um “pedacinho do Brasil em Roma”.
Além de ser um ponto de apoio para os religiosos-estudantes, o colégio também abriga cardeais e bispos brasileiros de passagem pela capital italiana. Hoje, 105 padres moram no colégio, sendo que três deles são de Cabo Verde, país africano que também fala português.
A rotina dos cardeais brasileiros é intensa, mas bem simples. Bem cedo, eles tomam café da manhã no refeitório, junto com todos os outros internos do colégio, antes de seguir para as congregações gerais que estão ocorrendo todos os dias na Sala Paulo VI, no Vaticano. Assim que a reunião termina, eles voltam para o colégio, onde almoçam junto com os demais padres. Na parte da tarde, alguns cardeais se dedicam a estudar ou a estudar para as reuniões pré-conclave. Os horários reservados para as missas, porém, são sagrados.
Nesta segunda, os cardeais decidiram que o conclave irá começar no próximo dia 7. A decisão saiu de uma das reuniões da congregação geral. Todos os cardeais saíram do encontro em silêncio. A data só foi confirmada minutos depois, pela divisão de comunicação do Vaticano.