PlatôBR: A guinada do PT ao centro para apoiar nomes do PSD em Minas e no RJ

PT defende a candidatura de Rodrigo Pacheco para a sucessão de Romeu Zema e pleiteia a vaga de vice numa possível chapa de Eduardo Paes para o Palácio Guanabara

Cadu Gomes/VPR
Foto: Cadu Gomes/VPR

O PT está com dificuldades para concorrer com candidatos competitivos aos governos dos estados do Sudeste. A carência de nomes com potencial para vencer na região forçou o partido, de acordo com o quadro atual, a abrir mão da cabeça de chapa em Minas Gerais e no Rio de Janeiro. Mais que isso, os petistas preparam uma guinada ao centro nessas duas unidades da federação e se movimentam para apoiar candidaturas do PSD, sigla de perfil conservador.

Em Minas Gerais, o presidente Lula estimula o lançamento do ex-presidente do Senado Rodrigo Pacheco (PSD) para governador; no Rio de Janeiro, o PT tenta indicar o vice de Eduardo Paes (PSD), que deve deixar a prefeitura da capital para tentar comandar o executivo estadual, embora não confirme ainda essa decisão.

A falta de líderes com potencial eleitoral representa um enfraquecimento da esquerda nos dois estados. O PT governou Minas Gerais entre 2015 e 2019 com Fernando Pimentel, antecessor de Romeu Zema (Novo), que exerce o segundo mandato. Embora o PT nunca tenha sido a maior força da esquerda no Rio de Janeiro, posição ocupada pelo PDT depois da redemocratização, a petista Benedita da Silva chefiou o executivo em 2002 com a renúncia do titular, o pedetista Anthony Garotinho (PDT), que saiu para disputar o Planalto. Antes, o PDT esteve frente do Palácio Guanabara por dois mandatos, com Leonel Brizola, entre 1983 1986 e 1991 e 1994.

Uma boa votação em Minas Gerais, Rio de Janeiro e, principalmente, em São Paulo é fundamental para qualquer candidato que pretenda ser eleito presidente da República. Por isso, os três estados estão entre as prioridades de Lula na amarração dos palanques de 2026.

No Rio de Janeiro, Eduardo Paes é o nome mais forte nas pesquisas até o momento. O vice-presidente nacional do PT, Washington Quaquá, atual prefeito de Maricá, na chamada Grande Niterói, indicou o nome do ex-prefeito da cidade, Fabiano Horta, para disputar o governo estadual.

A indicação foi vista como uma forma de Quaquá emplacar o nome de Horta como o vice na eventual chapa encabeçada pelo atual prefeito do Rio. O nome do PT mais conhecido hoje no Estado é o da deputada e ex-governadora Benedita da Silva, que deve concorrer ao Senado.

“O PT e a esquerda têm uma dificuldade para manter um projeto hoje no Rio. É uma realidade já de algum tempo. Só o PSOL vem com uma composição de esquerda, mas sem muita penetração. Há uma dificuldade real na construção de novas lideranças”, diz Fábio Py, professor de pós-graduação de Sociologia Política do Instituto Universitário de Pesquisas do rio de Janeiro (Iuperj).

Pacheco com o apoio do PT

Em Minas Gerais, o presidente Lula torce para que o ex-presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, do PSD (foto), assuma a candidatura ao governo, contando com o apoio do PT. Caso venha a tentar lançar candidato próprio, o PT não tem no momento muitas opções. Uma delas seria a prefeita de Contagem, Marilia Campos. A própria prefeita, no entanto, não estaria muito disposta a concorrer. Foram cogitados também nomes como o da ministra dos Direitos Humanos, Macaé Evaristo, e dos deputados federais Reginaldo Lopes e Odair Cunha, mas nenhuma dessas alternativas pareceu avançar e ganhar força.

No próprio PSD, além do nome de Rodrigo Pacheco, surge também como alternativa o ministro das Minas e Energia, Alexandre Silveira. O ministro diz que pretende apoiar Pacheco e desejaria disputar o Senado, mas admite, no entanto, ser o “plano B”. Já Pacheco, que descartou a possibilidade de se tornar ministro no governo Lula, afirma que pretende “se dedicar” ao seu estado. A afirmação sugere o seu desejo de se lançar na corrida ao governo.

O senador, porém, disse que esperará até maio para se decidir sobre essa candidatura e, enquanto isso, analisará as possibilidades de acordo com as pesquisas de intenção de voto. Nas sondagens, Pacheco aparece atrás de possíveis candidatos como o senador Cleitinho Azevedo e o ex-prefeito Alexandre Kalil, ambos do Republicanos, que deverá decidir ainda qual deles participará da disputa. Há 15 dias, Lula disse ter saído animado de uma conversa com Pacheco sobre sua possível candidatura.

Adversários em São Paulo

Ao contrário do que ocorre no Rio de Janeiro e em Minas, uma aliança do PT com o PSD seria impossível em São Paulo, pois o partido presidido pelo ex-prefeito paulistano Gilberto Kassab está do lado oposto. Kassab é secretário de Governo e Relações Institucionais do governador do estado, Tarcísio de Freitas (Republicanos), candidato à reeleição ou ao Palácio do Planalto em 2026, pelo campo da direita. Ao PT, restam as legendas da esquerda, como o PSB, o PSOL e o PCdoB.

O PT até tem um nome de peso para a disputa: o ministro da Fazenda Fernando Haddad (PT). Mas Haddad já perdeu a última eleição para Tarcísio e, segundo petistas, não deseja se candidatar outra vez. O partido pode também apoiar uma eventual candidatura do vice-presidente Geraldo Alckmin, do PSB, um ex-tucano e hoje um fiel aliado de Lula. Alckmin, também ministro da Indústria e Comércio, a princípio deve ser mantido como vice na chapa governista para tentar a reeleição ao Planalto.