Nas décadas passadas, as pessoas que queriam ter acesso a fotos de modelos, atrizes e atores nus precisavam recorrer às bancas de jornal e comprar revistas como Playboy, Sexy e G Magazine. Já para vídeos, era necessário recorrer a sites de procedência duvidosa. Hoje em dia, a tarefa está mais democrática e acessível. Isso porque famosos e anônimos disponibilizam esse tipo de conteúdo produzido por eles em sites como Onlyfans e Privacy. Basta assinar.

A Privacy, por exemplo, é uma plataforma brasileira criada em 2020, no início da pandemia de Covid-19. A empresa contabiliza mais de 4 milhões de usuários, 90% deles são homens.  Entre os produtores, o público é, majoritariamente, feminino. Dos 84 mil criadores, 67 mil são mulheres. “A criação de conteúdo sempre existiu, o que a Privacy fez foi colocar um valor em algo que as pessoas já estavam dispostas a consumir”, analisam os porta-vozes da marca, Fábio e Victor Maranhão.

Márcio Talon começou a monetizar fotos e vídeos íntimos pelo Onlyfans para atingir um objetivo financeiro. “Eu havia colocado uma meta para atingir aquela quantia em 2 meses e atingi nos primeiros 5 dias consecutivos. Aí, meu olho brilhou. Eu pensei: ‘Epa! gostei disso’”, relembra.

Apesar de ter começado pelo dinheiro, o produtor contou que encontrou no conteúdo adulto uma forma de se expressar. “Eu já estava em um processo de autoconhecimento e libertação há alguns anos, depois de ter tido depressão, fobias sociais, síndrome do pânico… Foi libertador para mim e me ajudou bastante na questão de quebra de tabus”.

Talon revelou à reportagem o que entrega para seus assinantes. “Fotos e vídeos, tanto de cueca, quanto nus, de forma natural ou excitado. Tem vídeos em que estou pelado apenas fazendo alguma coisa do dia a dia, tem vídeos em que estou me masturbando. Os acompanhados são de sexo mesmo, oral, penetração”, conta. 

O público das revistas se deparava, de forma geral, com mulheres dentro de um padrão de beleza: magras, geralmente brancas, sem imperfeições e retocadas no Photoshop. A democratização da produção de conteúdo adulto/erótico trouxe uma variedade de corpos admirados. Gabriela Gadotti é um exemplo disso. Conhecida como Minigabys, Gadotti é uma mulher com nanismo que está na Privacy. Para se ter uma ideia, o grupo da loira no Telegram, plataforma em que ela divulga prévias dos conteúdos pagos, conta com mais de 19 mil membros.

“Minhas fotos são realizadas com meu fotógrafo, Ivan Remonte. Produzo meus conteúdos de acordo com o que o público pede. Prefiro trabalhar com mais naturalidade o meu corpo, não uso Photoshop, gosto do mais natural possível. Entendo que vendo meu corpo do jeito que ele é, meus assinantes criam uma conexão comigo”, revela Minigabys, que esteve em 13º no ranking de perfis mais acessado na Privacy na semana em que a reportagem foi escrita.

Pietra Príncipe conhece os dois mundos. A apresentadora foi capa da Playboy em outubro de 2013 e hoje é uma das criadoras mais bem posicionadas no Onlyfans. Para ela, produzir conteúdo de forma mais natural e sem intervenção externa é o que separa os dois trabalhos. “Eu gosto muito de poder me fotografar em qualquer canto do mundo, gosto de exibir o meu prisma com mais verdade. O olhar é meu, a criação é toda minha, eu sou controladora com isso e tenho prazer assim. Inclusive, exerço esse controle da forma mais fluida possível. Mesmo no Onlyfans, sei que creators usam o lance do ensaio, de produção com terceiros. Eu detesto”, analisa.

“O que me motivou foi curiosidade, porque eu já era alguém que cria com nudez há uma década. Achei que não duraria um mês e cá estou, depois de mais de um ano e meio. Deu muito certo para mim”, completa.

Apesar de não revelar valores, Pietra garante que tem um retorno financeiro bastante positivo de seus assinantes, chegando a ser maior o pagamento feito pelo ensaio de 2013. “Eu sou uma das criadoras mais bem rankeadas do mundo, então, sim, esse valor [do cachê da Playboy] foi superado há muito tempo”.

Com uma demanda crescente de produção e consumo de conteúdo adulto e erótico, é possível imaginar que essa moda possa ter chegado para ficar, assim como a produção para outros nichos. “Eu entendo que esse lance é um assunto novo e as pessoas ainda estão se adaptando. Mas, espero que um dia seja apenas mais uma rede social, sem tanto tabu e preconceito em volta dele”, finaliza Talon.