CONVENCIONAL A plataforma P-74 opera em Campos e Búzios com tripulação (Crédito:Divulgação)

Plataformas não tripuladas representam o sonho da indústria do petróleo. Isso significaria que todas as operações realizadas em alto mar – da perfuração à separação do óleo e do gás — seriam controladas de uma central instalada no continente. Já existe uma experiência de plataforma não tripulada que vem sendo realizada no Mar do Norte, em Osemberg, pela norueguesa Equinor, desde 2018. Trata-se ainda de um projeto piloto, mas que inspira toda a indústria no mundo. Isso inclui a Petrobras, que investe em novas tecnologias, para transformar o projeto em realidade. Mas a empresa avisa que não existe ainda tecnologia para desabilitar completamente uma plataforma flutuante de produção de grande porte, como as do Pré-Sal.

No mundo real, elas ainda são supertripuladas ­— acomodam quase 200 pessoas. Especificamente as plataformas do Pré-Sal ficam a 300 km do continente, o que as obriga a ter uma infraestrutura hoteleira juntamente com uma outra de produção navegando em alto mar. “As plataformas são navios convertidos, onde se aproveita o casco que suporta o resto da estrutura”, explica Kazuo Nishimoto, professor do departamento de Engenharia Naval e Oceânica da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP). “As tripulações se revezam em turnos, às vezes de 15 dias, quando então voltam para a vida no continente.” Nishimoto é um dos especialistas da universidade que realiza teste e desenvolve novas tecnologias para a indústria do petróleo. “Além de ser uma operação custosa, sempre há riscos por mais que a empresa seja rígida na segurança de trabalho e nos processos de mitigação dos acidentes e incidentes”, afirma.

As primeiras explorações de petróleo foram em terra na Escócia, em 1850, e nove anos depois nos Estados Unidos. Elas se tornaram muito mais complexas quando foram para o mar, nos anos 1930 e 1950, na Venezuela e no Golfo do México. “Muitas atividades estão robotizadas”, diz Euardo Aoun Tannuri, professor de Engenharia Mecatrônica da Poli-USP. Já existem robôs, chamados de Pigs, que percorrem o interior dos tubos de óleo para encontrar fissuras no sistema. Tem ainda o ROV, que funciona a 2 mil metros de profundidade para arrumar um sistema de válvulas (chamado de árvore de natal), que pesa cerca de 90 toneladas e tem a função de controlar o fluxo e a vazão do petróleo e do gás. São vários os exemplos de tecnologia. “Essas atividade já são controladas por um profissional especializado por cabos como se fosse um videogame, mas ainda só podem ser feitos da plataforma e não do continente. O desafio é fazer isso do continente”, diz Tannuri.

Um grande passo nessa caminhada brasileira, no qual moram as apostas para se chegar à plataforma remota, é o desenvolvimento do Digital Twins. “Trata-se de um simulador capaz de reproduzir todos os processos da plataforma com os dados reais do ambiente em alto mar”, diz Nishimoto. Seria o mesmo, segundo ele, que produzir um sistema duplicado do corpo humano, que tivesse todas as medidas como pressão sanguínea e batimento cardíaco em tempo real. Ele permite que os técnicos simulem problemas como vazamento de óleo e gás, entre outros. “Mas para que funcionem sem a ajuda humana ainda é preciso desenvolver mais o sistema de inteligência artificial. Precisam ser expostos a mais situações para que resolvam com a mesma rapidez que o ser humano”, explica. Um bom paralelo com a situação das plataformas são os carros autônomos: eles já existem mais ainda não estão em linha comercial porque precisam ser aprimorados.

Desde a década de 1980, a Petrobras estabeleceu parcerias com a Universidade de São Paulo para desenvolver novas tecnologias. No campus existe um prédio batizado de Tanque de Provas de Números, onde os cientistas simulam vsituações. Por exemplo, existe ali um simulador de cabine de plataforma, onde são testados os cabos de amarração, diante de uma tempestade, entre tantas outras possibilidades. Trata-se de um trabalho incessante para aumentar a segurança e a eficiência do trabalho. “Aos poucos o número de pessoas é reduzido, mas ainda não tempos robôs que consigam ser tão flexíveis para entrar em um emaranhado de tubos para consertar um problema de válvula”, diz Tannuri. Outro ponto é a transmissão de dados, que da plataforma para a terra depende de um satélite, que não transmite em tempo real e ainda falha. “Estamos no caminho para a plataforma não tripulada. Em dez anos, até menos, devemos chegar a um cenário bem próximo disso”, projeta.

INOVAÇÃO Plataforma da Equinor, no Mar do Norte: monitorada do continente (Crédito:Divulgação)