A saída da XP da corretagem de criptoativos com o surpreendente encerramento da plataforma de negociação Xtage parece um ato isolado. Entre as outras instituições financeiras brasileiras, não parece haver qualquer desânimo com o segmento. Na verdade, o anúncio de ontem da XP foi um passo na contramão do que o mercado tem feito quanto à adoção dos ativos digitais tanto na área tecnológica quanto na oferta para clientes.

“Os pares estão avançando, estabelecendo suas operações de digital assets. Alguns não estão com um braço de exchange, como o Itaú que focou em tokenização e custódia. Mas são iniciativas que futuramente estarão dentro do que se entende por investimentos”, afirma Bruno Diniz, sócio da consultoria Spiralem.

As exchanges locais e estrangeiras que atuam no Brasil estão à espera da regulação infralegal para os prestadores de serviços com ativos digitais. O Banco Central (BC) estuda o assunto para realizar consulta pública em breve. Mas a realidade é que a arena é dominada pelos estrangeiros, sobretudo a Binance, que tem mais da metade do volume de mercado, segundo o site Cointrade Monitor.

A robustez de plataformas como a Binance, inclusive, talvez esteja freando o alcance das operações brasileiras. Um profissional do mercado disse ao Broadcast Investimentos que, dentre os motivos do fim da Xtage, pesou o fato de a exchange permitir “apenas operações compradas com cash, sem alavancagem, sem livro de ordens e sem short (venda a descoberto)” – que as grandes internacionais oferecem. A falta de uma plataforma de negociação, e com poucas moedas disponíveis, em um segmento que teve baixa adesão, culminaram no anúncio de encerramento, segundo a fonte. Procurada, a XP não quis comentar.

Com este cenário, instituições como o Itaú nem se dedicaram à criação de plataformas, mas colocaram energia e investimentos à tecnologia e ao piloto do Drex. No caso do BTG, que anunciou a criação da Mynt quase na mesma época da XP, no meio do ano passado, a operação é vista como mais consistente por quem é da área cripto. Além do lançamento regular de novas moedas digitais para negociação e da criação de uma stablecoin de dólar própria, o banco investiu na Lumx, startup focada em tokens e NFTs. Neste caminho, vale dizer também que o Itaú tem participação na tokenizadora Liqi.

Procurados para comentar seus negócios em criptoativos, Itaú e BTG preferiram não comentar.

Já o Nubank abriu as portas de seu aplicativo para cripto, com negociação de bitcoin e ethereum, e atualmente registra mais de 3,5 milhões de clientes que fizeram pelo menos uma compra de criptomoedas, com 1,5 milhão de usuários ativos. “Não entramos neste mercado por modismo, pensamos no longo prazo, entendemos que essa tecnologia tem o potencial de reestruturar o sistema financeiro tanto no Brasil quanto no mundo”, aponta o banco digital, em nota. “Basta vermos os avanços nas CBDCs, no Drex brasileiro e em testes de tokenização.”

Moeda digital

O andamento da moeda digital emitida pelo BC deslocou, de certa maneira, o polo de atração que o mundo cripto exerce nas instituições brasileiras. A XP teve sua proposta, feita em parceria com a Visa, aprovada para participar dos testes do Drex. São no total 16 consórcios, com todos os maiores bancos, públicos e privados, além de empresas de tecnologia globais e fintechs. Para esse segmento, ao que indica, a XP continua olhando.