Por Gabriel Araujo

SÃO PAULO (Reuters) – A plataforma de fretes rodoviários do agronegócio Tmov, da companhia de logística Sotran, viu seu faturamento do primeiro trimestre saltar 103%, para 299 milhões de reais, em relação ao mesmo período do ano anterior, apostando na “bandeira branca” e em novas soluções de tecnologia para manter o crescimento.

O CEO do Tmov, Charlie Conner, disse à Reuters que a plataforma digital –lançada em 2019– já é responsável, em média, por cerca de 90% a 95% da receita diária da Sotran, que está presente em 14 Estados. Há um ano, essa proporção girava em torno de 60%.

Somente ao longo do último ano, a plataforma registrou um expressivo aumento de 150% em sua base de usuários mensalmente ativos, conforme dados da empresa divulgados nesta quinta-feira.

Empresas como Seara, Cargill, Coamo, Coopersucar, Yara e BRF fazem parte do atual portfólio de clientes do marketplace da Sotran.

O crescimento da plataforma, tanto financeiro quanto na base de usuários, vem na esteira de estratégias que envolvem a fidelização dos caminhoneiros por meio de incentivos e benefícios em dinheiro.

A expansão do marketplace de logística também veio acompanhada por um investimento de 100 milhões de reais liderado pelo fundo de private equity norte-americano Arlon Group e pela FitPart, anunciado pela companhia em fevereiro deste ano.

Mesmo com o desempenho já registrado até aqui, Conner acredita que o uso de soluções digitais no transportes de cargas do Brasil é uma “revolução” que está apenas começando, em um setor em que a maioria das companhias, pequenas e médias, ainda tem como base mecanismos tradicionais e offline.

“O modelo antigo, de o motorista arrumar carga com transportadores tradicionais, está morrendo… Tem várias empresas entrando para trazer conveniência, mais receita e mais economia para esse público com tecnologia”, disse Conner. “E essa onda está bem no começo, vai longe”.

NOVOS ‘PLAYERS’

O setor tem registrado recentemente movimentos de grandes tradings do agronegócio para aliar tecnologia ao transporte de cargas. Em maio, a Bunge anunciou uma parceria com a Target para criação da empresa Vector, com foco na digitalização do processo de contratação de frete rodoviário.

Nesta semana, foi a vez das tradings Amaggi, Louis Dreyfus Company (LDC), Cargill e Archer Daniels Midland (ADM) também comunicarem uma parceria para criação de uma empresa de logística e pagamentos de fretes rodoviários.

“Quanto mais empresas trouxerem tecnologia, conveniência e foco no caminhoneiro, melhor, porque a visão da empresa é abrir o caminho digital… Me agrada muito ver outros ‘players’ começando a olhar para a digitalização da jornada do motorista”, afirmou Conner.

Em meio a essa onda, porém, o Tmov ainda vê um espaço muito grande no mercado para uma empresa de bandeira branca, que não possua vínculo direto com as donas das cargas.

“Nós estamos no mercado como bandeira branca, com cargas de 800 embarcadores”, disse o CEO.

“Eu não fico preso a ninguém, eu estou lá para ofertar uma solução completa, que não é só carga, mas meio de pagamento, serviços financeiros”, acrescentou ele.

PRÓXIMOS PASSOS

O Tmov aposta agora no lançamento de novas soluções tecnológicas que possam agregar às que já têm sido utilizadas pela empresa. Para este mês, anuncia uma migração em sua base de meio de pagamentos, que resultará no Tmov Pay, com a abertura de contas digitais para os motoristas que utilizam a plataforma.

Também prevê os lançamentos de um produto para gestores de frotas de portes grande e médio, que vai se somar ao foco atual do marketplace em motoristas autônomos e pequenos frotistas, e de uma nova versão da plataforma Tmov Shipper, com foco nos embarcadores.

A meta, de acordo com o CEO, é garantir maior transparência e “compliance” aos clientes, oferecendo soluções como o rastreamento em tempo-real de cargas.

“(O agronegócio) é um mercado muito grande. Pensando na ótica de plataformas, coisas para motoristas, há espaço para muitas empresas e muita solução… A perspectiva do setor de agronegócio, olhando no horizonte de três, cinco, dez anos, é excelente”, concluiu.

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