DISPERSÃO Micropartículas chegam a lugares remotos levadas pelo vento e pelas correntes marítimas (Crédito:Divulgação)

Nos últimos anos, cientistas descobriram poluição microplástica em lugares improváveis: perto do cume do Monte Everest e na Fossa das Marianas — nas profundidades do Oceano Pacífico. Agora, a Antártica, visitada quase que exclusivamente por cientistas, se junta a essa lista, onde pesquisadores da Nova Zelândia encontraram diversas amostras do polímero. Publicada na revista científica The Cryosphere, o resultado do estudo realizado pela Universidade de Canterbury sugere que nem mesmo os ecossistemas remotos do continente gelado conseguirão evitar a contaminação por microplásticos. “É incrivelmente triste, mas encontrar microplásticos na neve fresca da Antártica destaca a extensão da poluição até nas regiões mais remotas do mundo”, disse Alex Aves, principal autora do estudo, em um comunicado à imprensa. Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores colheram amostras de neve de 19 locais diferentes na área da Ilha Ross e encontraram uma média de 29 partículas em cada amostra. A onipresença dos microplásticos na natureza é irreversível e pode afetar a saúde humana.

SURPRESA Pesquisadores neozelandeses confirmaram a contaminação (Crédito:Lucy Howell)

Mas afinal, como o plástico foi parar na Antártica? Segundo a professora Cassiana Montagner, do Instituto de Química da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a degradação dos plásticos já presentes no meio ambiente faz com que eles cheguem a lugares com pouca presença humana. “Dependendo do tamanho, essas partículas viajam com o vento, com a poeira, e também com as correntes marítimas, por isso elas vão a lugares tão distantes”, diz. Ela explica ainda que a indústria dos cosméticos, e também do vestuário, são responsáveis por espalhar o poluente. “O microplástico pode causar muitos danos, indo parar na nossa alimentação e já existem estudos que sugerem que podem até obstruir órgãos no nosso corpo, como o pulmão”, afirma.

Para Rogério Machado, professor de Química e Meio Ambiente da Universidade Presbiteriana Mackenzie, apenas substituir o uso do plástico por outros materiais não será o suficiente para livrar a humanidade do problema. “Além da reciclagem, precisamos investir em saneamento, impedir que esses plásticos entrem em contato com os rios e os mares, assim poderemos contornar a questão”, diz.