Planos econômicos de Trump podem causar inflação, diz economista-chefe do FMI

Planos econômicos de Trump podem causar inflação, diz economista-chefe do FMI

Os planos econômicos de Donald Trump podem reavivar a inflação nos Estados Unidos, disse à AFP Pierre-Olivier Gourinchas, economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI), poucos dias antes de o republicano retornar à Casa Branca.

As propostas do magnata de aumentar as tarifas e reduzir a imigração provavelmente limitarão a oferta da economia e vão causar um aumento nos preços, pontuou Gourinchas.

Outras iniciativas que o presidente eleito lançou, como reduzir a burocracia e os impostos, também poderiam alimentar a inflação ao impulsionar a demanda, acrescentou.

“A conclusão é que, quando analisamos o risco para os Estados Unidos, vemos o risco de um aumento da inflação”, disse.

Gourinchas conversou com a AFP na sede do FMI em Washington, um dia antes da publicação, nesta sexta-feira (17), de seu relatório-chave Perspectivas da Economia Mundial (WEO, na sigla em inglês).

Na atualização do WEO, que não levou em conta as propostas de Trump devido à “incerteza” política, o FMI elevou sua previsão para o crescimento global e aumentou drasticamente sua perspectiva para a economia dos Estados Unidos.

Vários economistas consideram os planos de Trump sobre tarifas e imigração inflacionários, mas o republicano e seus assessores rebatem, argumentando que o pacote geral de medidas que se planeja promulgar deve ajudar a manter os preços sob controle.

Os operadores reduziram o número de cortes de taxas que esperam que o Federal Reserve (Fed, o banco central) dos Estados Unidos promova em 2025, atribuindo uma probabilidade de aproximadamente 80% de que o órgão não realize mais de dois cortes de um quarto de ponto neste ano, segundo dados do CME Group.

Gourinchas disse que o FMI espera que o Fed reduza as taxas em meio ponto percentual tanto em 2025 quanto em 2026, uma previsão em linha com a média das projeções dos dirigentes do Fed entrevistados em dezembro.

– Risco de deflação na China –

A China, segunda maior economia do mundo e que está lidando com uma crise no setor imobiliário e com uma crescente incerteza sobre a política comercial global, parece viver uma situação completamente diferente.

Em seu relatório WEO, o FMI prevê que o crescimento chinês continuará esfriando, mas em um caminho ligeiramente mais suave graças ao recente pacote de apoio fiscal do governo para apoiar a aceleração da economia.

“Se observarmos a China, as preocupações apontam para o risco de que o país entre em um regime de deflação, com o agravamento da crise do setor imobiliário”, disse Gourinchas.

“Em termos de políticas, certamente acreditamos que os chineses estão indo na direção certa, mas talvez as autoridades chinesas possam fazer mais”, disse.

Se não o fizerem, a China corre o risco de que o recente apoio econômico seja insuficiente, o que poderia levar a uma maior desaceleração do crescimento, acrescentou.

Os dados de Pequim divulgados nesta sexta-feira mostraram que o crescimento da China atingiu 5% no ano passado, ligeiramente acima das expectativas, mas abaixo do aumento de 5,2% registrado em 2023.