Performance, ato, espetáculo e filme. Plano-Sequência – Take 2, novo trabalho do bailarino e coreógrafo Jorge Garcia, não tem uma única definição. É cheio de possibilidades e leituras. A criação estreia na segunda, 16, na Casa das Caldeiras. Desde sua origem, em 2005, a Jorge Garcia Companhia de Dança investiga o cruzamento com diferentes linguagens artísticas. Agora, explora as possibilidades entre o movimento dos corpos e o cinema. Em pouco mais de uma hora, Garcia e mais sete bailarinos criam um longa-metragem em plano-sequência enquanto se movem pelo espaço.

“Coreografamos não só a movimentação, mas toda a parte de enquadramento. Estou tentando tirar o máximo de equipamentos mecânicos. Tudo é corpo. Se a gente faz um travelling (deslocamento da câmera pelo espaço), é um corpo que desliza, que puxamos pelo chão. Tem um bailarino que filma com patins. É a câmera como extensão do corpo. Os bailarinos se filmam e a gente vai trocando a câmera de um para o outro”, explica o coreógrafo.

O público pode assistir ao trabalho acompanhando de perto a coreografia ou olhando as imagens capturadas ao vivo em uma tela. São várias camadas de movimentos: a dança de quem é filmado, a de quem segura a câmera, a daqueles que auxiliam o bailarino cinegrafista, o percurso feito no ambiente, o fluxo das imagens na tela. O músico Eder “O” Rocha cria a trilha em sua bateria no momento da apresentação.

Garcia queria que o longa tivesse “o máximo de qualidade possível”. “A ideia é, no final da temporada, ter um filme pronto na Casa das Caldeiras”, diz. Para isso, o elenco passou por quatro workshops. Em um deles, o artista multimídia e bailarino Joaquim Tomé os ensinou a explorar técnicas de manuseio da câmera usando o corpo. A companhia também estudou dramaturgia, captação de áudio, luz e fotografia.

O grupo contou ainda com a ajuda do cineasta Heitor Dhalia, a quem Garcia chama de “nosso provocador em cinema”. Recifenses, os dois se conheceram em São Paulo. Há algum tempo, Dhalia começou a frequentar as aulas de ioga na Capital 35, sede da companhia, enquanto filmava seu novo documentário On Yoga: Arquitetura da Paz, apresentado na última semana no Festival do Rio.

Dhalia, que afirma sempre ter adorado dança, já havia colaborado com a obra anterior de Garcia, Take a Deep Breath (2016), que também usou o vídeo para investigar a cena, relações e espaço. “Tentei trazer ideias do modo de pensar do cinema para a dança. O trabalho do Jorge é incrível. Para mim, é uma experiência ver como um criador de dança pensa. Estamos tentando um diálogo entre essas duas áreas”, conta Dhalia.

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Plano-Sequência – Take 2 começou a ser desenvolvido no começo do ano. Há cinco meses, a companhia trabalha quase diariamente na Casa das Caldeiras, onde realiza residência artística. Na primeira metade do século 20, o edifício histórico produzia energia para o parque industrial do conde Francisco Matarazzo (1854-1937). Em 1986, o prédio foi tombado e, 12 anos depois, começou a ser restaurado. Hoje, recebe eventos e atividades culturais. Garcia também propôs um diálogo entre seu trabalho e o lugar.

O roteiro desse espetáculo-filme foi sendo construído assim, a partir de vínculos entre pessoas, espaços e o mundo contemporâneo. “A gente está trazendo elementos de relações que, hoje em dia, necessitamos mais. Troca de olhar, pensar no toque com o outro, como podemos dialogar com o outro. Estamos sempre nos ajudando nesse trabalho. Acho que a gente se potencializa estando juntos mais do que querendo impor uma visão própria em cima dos outros. Tento falar sobre isso, não com uma narrativa com começo, meio e fim, mas com imagens e sensações dentro delas”, afirma Garcia.

JORGE GARCIA CIA. DE DANÇA Casa das Caldeiras. Avenida Francisco Matarazzo, 2.000, tel. 3873-6696. 2ª a 5ª, às 17h e 20h. Grátis. Até 24/10.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


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